Presidente da Junta de Freguesia em longa entrevista
“A questão da devolução do dinheiro no caso da florestação do Coto Velho foi levantada por pura maldade”
O mandato em curso da Junta de Freguesia de Soajo, aos olhos da opinião pública, tem sido dominado por crispações permanentes e escassas realizações. A cisão entre Manuel Gomes Capela, presidente, e Cristina Martinho, secretária, tem conduzido a uma atmosfera de alta tensão com repercussões negativas em relação à imagem da Terra. Mas as tricas pessoais, que têm “incendiado” as assembleias de freguesia, (quase) não entraram no alinhamento desta entrevista, que se centra em assuntos de interesse geral.
A propósito, sobre o anunciado reembolso do dinheiro devido a irregularidades detetadas em ação de florestação no Coto Velho, Manuel Gomes Capela acredita que a verba superior a 53 mil euros será repercutida nas contas dos Baldios de Soajo, confirmando ações judiciais contra aqueles que hajam feito denúncias “sem fundamento nenhum”.
De resto, apesar do reduzido orçamento que a Junta tem para gerir, o autarca promete obras nos vários cemitérios de Soajo e quer, pelo menos, um(a) soajeiro(a) a trabalhar no futuro Posto de Turismo, colocando completamente de lado a hipótese de a atual funcionária da Junta de Freguesia, Olga Gomes, vir a acumular funções. Pois, caso isto viesse a acontecer, “alguma coisa tinha de ficar mal, ou o Posto do Turismo ou o serviço da Junta, e nós não queremos isso”, reforça.
A Assembleia de Freguesia de Soajo que era para ser a 9 de abril passou, afinal, para 16 de abril. Porquê?
Era para ser, de facto, no dia 9 [de abril], mas nós não dissemos nada a ninguém nem tão-pouco afixámos editais… De resto, começámos a colocar hoje [5 de abril] os editais a anunciar a Assembleia para o próximo dia 16.
Que procedimentos não foram efetuados em respeito pela lei para justificar este “adiamento”? O edital está assinado pela presidente da Assembleia de Freguesia de Soajo, Maria Tibeiro Branco? E esta tratou do processo ou foi, pelo menos, consultada?
Foi... Eu próprio é que fui a casa dela para que a presidente da Assembleia de Freguesia assinasse a convocatória e o edital. Disse-lhe na altura que “era para ser no dia 9, mas já não dava.”
Que assuntos é que constam da Ordem de Trabalhos?
A apresentação das contas [estas foram, na realidade, apresentadas em reunião anterior] e a atividade da Junta desde a última reunião.
O mandato em curso tem-se caracterizado por poucas realizações e há diversas reclamações. Muitos soajeiros alegam, por exemplo, que os cemitérios carecem de pequenos arranjos e de melhor limpeza. O que tem para lhes dizer?
É verdade… Há cemitérios que precisam de pequenas intervenções… Já levei um construtor ao cemitério de Vilar [de Suente] para reparar lá um passeio, cujo trabalho vai começar em breve.
E que obras estão previstas para o cemitério da vila de Soajo?
Ainda não tomamos a iniciativa de ver o que deve ser feito de concreto no cemitério da vila de Soajo, mas reconheço que os passeios estão um pouco arruinados… É um cemitério muito grande, pelo que vamos ter de disponibilizar muito dinheiro.
Que valor a Junta estima como necessário para melhorar as condições dos vários cemitérios? A Junta tem verba para cobrir os investimentos nos vários cemitérios?
Vamos lá ver… Ao todo, há 10 mil euros para investir em todos os cemitérios. A Junta tem de estar sempre preparada para fazer investimentos e para socorrer urgências.
Foi recentemente suscitada na Assembleia de Compartes da Freguesia de Soajo a questão de uma dívida de 52 mil euros, acrescidos de juros, que a autarquia não terá liquidado, devido a uma ação de florestação. A denúncia tem algum fundamento?
Isso não tem fundamento nenhum… A Junta de Freguesia não deve nada! Houve em tempos bem recuados, em 2008, ou à volta disso, uma florestação numa área próxima do Mezio, no chamado Coto Velho, e agora o Ministério da Agricultura entendeu que a mesma não foi bem-sucedida, pedindo o reembolso do dinheiro. Temos um advogado a tratar do assunto.
Com base nos elementos que possui, está confiante numa decisão favorável?
Não pode ser de outra maneira. A gente espera não pagar nada, porque isso não foi com a Junta de Freguesia…Mas mesmo quando isso tiver de acontecer, a despesa tem de ser atribuída aos Baldios, porque se trata de uma obra dos Baldios… Aliás, o parecer jurídico diz que a responsabilidade não é da Junta, mas dos Baldios…
Mas os Baldios, à época, estavam sob administração da Junta de Freguesia de Soajo...
Na altura, sim…
Não receia que, em caso de sentença desfavorável, as contas da Junta venham a ser penhoradas?
Não receio nada disso… Se isso acontecesse, acontecia… Nada podia fazer, mas não é por nossa culpa. A questão da devolução do dinheiro por alegadas irregularidades na florestação do Coto Velho foi levantada, na Assembleia de Compartes da Freguesia de Soajo, por pura maldade. A advogada que está a tratar desta matéria já leu o artigo e vai responder à denúncia segundo a qual houve “incúria” da Junta de Freguesia. Não foi nada incúria, nós, quando recebemos a carta, imediatamente a levámos a uma advogada para tratar do assunto, a qual está na posse da documentação toda. O presidente da Câmara sabe disso.
Entretanto, o Posto de Turismo de Soajo tem conhecido algum atraso. Quando é que as obras de remodelação do edifício do Millennium arrancam?
Não sabemos. Marquei mesmo agora uma reunião com o presidente da Câmara Municipal para tratar do assunto… Foi-nos dito, em tempos recentes, que o Posto de Turismo iria abrir, em princípio, durante o mês de abril, mas já não pode ser, porque as obras nem sequer começaram.
O Posto de Turismo de Soajo vai dar trabalho a quantas pessoas?
Não faço ideia… Mas, pelo menos, a uma pessoa… De resto, este assunto vai ser colocado ao presidente da Câmara Municipal.
Pode garantir que a(s) pessoa(s) a empregar serão de Soajo?
Claro que sim…
Há a possibilidade de a funcionária da Junta de Freguesia ser afeta ao Posto de Turismo de Soajo?
Não admito [que isso seja equacionado]... A Junta de Freguesia tem imenso trabalho todos os dias, pelo que não podemos afetar a nossa funcionária ao Posto de Turismo, pois, nesse caso, alguma coisa tinha de ficar mal, ou o Posto do Turismo ou o serviço da Junta, e nós não queremos isso. Vamos apresentar ao presidente da Câmara o nosso interesse em ter alguém a trabalhar em exclusividade no Posto de Turismo.
Além do Posto de Turismo, que outros assuntos vão ser suscitados ao edil João Manuel Esteves?
A colocação do monumento alusivo às comemorações dos 500 anos do Foral de Soajo e o arranjo urbanístico nas imediações do Restaurante Videira.
Entretanto, as casas de banho recém-construídas só abrem em dias de feira. Porquê?
Abrem nos dias de feira e quando há excursões...
Mas como é que a Junta consegue antecipar as visitas de turistas?
Sempre que há excursões, as casas de banho estão disponíveis através das informações fornecidas pelos cantoneiros, mas, claro, no fim de semana, não é bem assim. Aos sábados e domingos, terá de ser a Junta a fazer isso.
Mas não podemos facilitar, porque queremos salvaguardar o património, que é de todos. Caso contrário, tudo aquilo seria vandalizado. De qualquer maneira, sempre que houver movimento, as casas de banho estarão disponíveis.
Mas em muitas circunstâncias, dir-se-á na grande maioria dos casos, os elementos da Junta ou não sabem da chegada de grupos turísticos ou não estarão no Campo da Feira? E os visitantes não vão bater à porta dos responsáveis para poderem aliviar a bexiga…
Ah, isso pode acontecer, claro…