A 17.ª Feira das Artes e Ofícios Tradicionais (FAOT), que Soajo recebeu de 15 a 17 de julho, experimentou sentimentos contraditórios. O vínculo às raízes da Terra teve expressão máxima nas exposições, no desfile de roupas tradicionais, nas cantigas ligadas à lavoura e na música de cariz popular (esta levou autênticas multidões ao Largo do Eiró na sexta e no sábado, sempre à noite). Mas, fora o programa de animação (noturna), pouco público acorreu, quase o tempo todo, à feira, que foi antecipada, este ano, em cerca de duas semanas.
A mostra de produtos regionais e os ofícios tradicionais são a razão de ser do certame, mas, excluindo raríssimas exceções, só as tasquinhas geraram algum negócio. A carne cachena, a posta, o porco no espeto e o polvo foram alguns dos pratos que se comeram nas “barraquinhas”, cada qual com a sua especialidade. Nas mesas espalhadas pelo recinto, com diversos carros de mato e de lenha a lembrar aos presentes de onde vimos, também foram degustados diferentes petiscos e alguns dos típicos produtos da região, casos do presunto, chouriço, carne da serra, pão-de-ló, mel, licores, compotas e doces, sem esquecer a gastronomia caseira (pataniscas, rissóis, bolinhos de bacalhau, bifanas, panados e caldo-verde). Os restantes setores representados na FAOT, sobretudo os produtos de base rural e o artesanato, suscitaram reduzida procura, talvez devido à profusão, no mercado, de “artigos chineses”, queixou-se uma artesã na cerimónia oficial de inauguração.
De resto, à luz do figurino anterior (na verdade, não houve inovação que se visse nesta edição), a FAOT voltou a privilegiar o espaço de “tasquinha”, com constante animação no recinto. Mas as elevadas temperaturas de sábado e domingo prejudicaram, irremediavelmente, a visitação, que não deu ambiente de festa ao certame.
Quanto à programação cultural e lúdico-pedagógica, é justo destacar, pelo sentimento difundido, a exibição das Cantadeiras de Soajo, que recriaram cantigas ligadas ao mundo rural, e a exposição “Soajo e as suas gentes – Uma viagem ao passado”, que, através de uma sugestiva galeria de fotos da autoria de Alexandre Fernandes Baptista e Alexandre Rodas Araújo (e textos de Vasco Domingues), permitiu recuperar bonitas memórias, algo que os apetrechos ancestrais patentes no Salão S. José (Centro Social e Paroquial) também suscitaram. Outras soajeiras, de várias idades, protagonizaram um gracioso desfile de trajes tradicionais, sob coordenação de Gil Viana, a fazer jus ao “elevado sentimento” intrínseco ao território, como a ele se referiu o secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Amândio Torres.
De resto, a inauguração da exposição de pintura “Soaj’Art” (da autoria de António Aguiar e Fernando Cerqueira) não teve o público que merecia na Casa do Povo.
No rescaldo da 17.ª edição da FAOT, fortemente marcada pelo clima (quase) tropical, a antecipação da mesma para meados de julho, sem a numerosa comunidade de emigrantes que, no torrão natal, costuma estar de férias em agosto, não terá ajudado, segundo vários expositores, a dar o desejado impulso ao evento, que, em anos recentes, tem vindo a desmobilizar alguns dos produtores referenciais da economia regional. Também “jogou” a desfavor da visitação a apresentação tardia do programa, quando as famílias gostam de planear, com algum grau de certeza, os seus fins de semana de verão.
Noutro âmbito, ao ficarem acantonados no Caminho do Eiró, nas “costas” da principal porta de entrada do Largo do Eiró (para quem vem do parque de estacionamento instalado no Campo da Feira), os expositores das “tendinhas” amarelas tiveram reduzida visibilidade.
Por fim, algumas papeleiras, mesmo cheias de lixo, assim estavam à hora do arranque da feira, valendo a ação diligente de certos expositores para que o mobiliário urbano se mantivesse mais ou menos asseado.
A organização da FAOT, que teve apoio do Município arcuense, emparceirou a ARDAL-Porta do Mezio e a Junta de Freguesia de Soajo.