Ingressou, recentemente, na Universidade de Coimbra no curso que pretendia. Concluiu o secundário no Agrupamento de Escolas de Valdevez (AEV) e fez, com distinção, o exame nacional de Português. Protagonizou, no ano letivo 2016/2017, uma das 74 colocações (só primeira fase, um número recorde) do AEV no ensino superior público. A jovem soajeira de quem se fala é Ana Teresa Ribeiro Lage.
O presente sorri a Ana Lage, mas o sucesso é fruto do trabalho. Por isso é que ela conseguiu, sem surpresa, entrar no curso de Sociologia, integrando o contingente de alunos que, a nível nacional, ingressou no curso prioritário. Aliás, a classificação final do secundário, de 16,1 valores, tendo como referência a média do último aluno colocado no mesmo curso, no ano letivo anterior, permitia, desde logo, à futura socióloga ter uma ideia do que iria acontecer. “Fiquei eufórica [no momento em que o ingresso na universidade se confirmou], apesar de estar à espera disso”, diz Ana Lage, que, depois da “euforia”, promete continuar a ser “estudiosa”.
A caloira, mesmo sabendo de antemão que, por cá, vão escasseando reais oportunidades de emprego em (quase) todas as áreas, tem, no entanto, muito em que pensar no presente. “Só penso nos desafios que tenho pela frente, e todos eles serão bem-vindos e ultrapassados”, afirma Ana, que, porém, no pós-licenciatura, se vê a tirar o mestrado e a ter uma experiência de internacionalização, pela porta das ONG (Organizações Não Governamentais).
O desemprego jovem é um drama social ao qual nem os diplomados escapam. Em Portugal, há mais de 30% de jovens licenciados (até 25 anos) sem trabalho, revelando um desfasamento entre as necessidades das empresas em termos de competências profissionais e os perfis disponíveis no mercado.
Mas, note-se, há cada vez mais empresas a contratarem licenciados em Sociologia (também em Psicologia e Filosofia) para atividades de gestão.
Quem é Ana Lage
. Idade: 18.
. Naturalidade: Soajo.
. Passatempos favoritos: ler, ouvir música e fazer voluntariado.
. Personalidade (traços de caráter): organizada, simpática, amiga, sorridente, estudiosa e boa ouvinte.
. Ídolo ou pessoa que mais admiras: Não tenho um ídolo, tenho apenas várias pessoas que admiro imenso, isto porque contribuíam/contribuíram de alguma forma para o bem-estar social, ou lutam/lutaram contra as desigualdades.
. Um bom professor tem de ser: amigo dos seus alunos, ou seja, deve abstrair-se dos problemas, dedicando-se a 100% à lecionação e à aclaração de dúvidas.
. Perfil de aluna: sou organizada, traço objetivos e estudo seguindo métodos por mim definidos.
Sete perguntas a Ana Lage
“As desigualdades sociais despertam-se a atenção”
- Ingressaste no curso de Sociologia na exigente Universidade de Coimbra. Porque é que escolheste esta área?
A Sociologia é uma área que, desde cedo, me despertou a atenção, pois ajuda-nos a olhar para além dos contextos e isso é uma mais-valia.
- Quando é que decidiste estudar Sociologia?
No secundário.
- Como é que está a correr a tua adaptação à faculdade e à cidade? Em que medida as praxes ajuda(ra)m à tua integração?
Estou a gostar imenso. Coimbra é uma cidade fantástica, com tradições universitárias lindíssimas e isso é importante na minha adaptação. As praxes ajudam muito, é lá que tenho oportunidade de conhecer melhor as pessoas do meu curso. Não consideraria a praxe boa se fosse abusiva ou algo do género, mas isso não acontece, muito pelo contrário, a praxe é divertida e os meus doutores são fantásticos.
- A área que estás a cursar tem uma baixa taxa de empregabilidade. Quais os teus planos profissionais a médio prazo (a licenciatura, 1.º ciclo, completa-se em três anos letivos)?
Sinceramente, não é um problema em que pense muito para já, tenho de me orientar pela atualidade, e o presente é ter sucesso no percurso universitário.
É verdade que não quero findar o meu curso e tomar, depois, um rumo completamente diferente daquele que planeava, mas estou na área de que gosto e existe uma multiplicidade de projetos a nível Europeu e de ONG, que procuram cada vez mais profissionais competentes na minha área.
- A sociologia é uma área muito vasta, da política social às desigualdades, das políticas locais às relações interpessoais, do Direito à História, dos dados estatísticos às ferramentas informáticas, do emprego aos recursos humanos… Qual o teu “ramo” preferido? Porquê?
As desigualdades sociais são um tema que me desperta a atenção, entre outros, isto porque é lamentável que uma pequeníssima parte da população seja mais rica do que a grande maioria.
- Alguns estudiosos, como Boaventura de Sousa Santos, diretor de Departamento de Sociologia da Universidade de Coimbra e figura de proa das ciências sociais, acham que a crise é uma estratégia para acabar com as políticas sociais. Qual a tua opinião?
Concordo plenamente, os efeitos da crise são objetivamente esses, redução nos direitos básicos como a saúde, a educação e o aumento dos impostos. E isto cria ainda mais desequilíbrios sociais.
- A juventude de Soajo parece desmobilizada para a política. Como é que explicas este “divórcio”?
Na minha opinião, esta desmobilização resulta da falta de credibilidade com que os jovens encaram a maioria dos agentes políticos, acrescido da reduzida população jovem e, também, fruto do desinteresse da vida política por parte da juventude soajeira.