O festival Ser EducAção – além dos debates e dos círculos interativos em torno da escola, sobre os quais o blogue fez ontem circunstanciada reportagem – consagrou boa parte da sua programação ao público infantil.
O espetáculo “Mão Verde” (homónimo do livro-disco), de Capicua e Pedro Geraldes, sobrelotou, ontem, 8 de outubro, a sala da Escola da Eira do Penedo, que acomodou muitas famílias. A rapper portuense Ana Matos Fernandes, que é capa da revista Notícias Magazine deste domingo, 9 de outubro, cantou e encantou a assistência desfiando uma coletânea de canções, cheias de ternura e humor, sobre natureza, agricultura, alimentação e ecologia, quatro temas das suas rimas, que também são lutas.
Mas o festival Ser EducAção, além deste raro concerto fora das grandes salas de espetáculos, teve, ainda, a virtude de juntar, em Soajo, dezenas de crianças, vindas de várias localidades, proporcionando-lhes brincadeiras ao ar livre. Na ótica da organização, brincar em espaços abertos é importante para o desenvolvimento físico, intelectual e cognitivo das crianças, pelo que os pais devem fomentar (boas) atividades para combater o sedentarismo (segundo um estudo, realizado recentemente em vários países, entre os quais Portugal, o tempo médio de brincadeira ao ar livre no nosso país é de 63 minutos por dia). Em pleno, resultaram, por isso, as brincadeiras aos “foguetões de água”, aos jogos tradicionais, às criações artísticas e aos castelos com esponjas, assim como as sessões de leitura partilhada entre pais e filhos.
A jornada de sábado terminou com um grupo de soajeiros, maioritariamente mulheres, a recriar ao vivo o fiadeiro tal como este se fazia há décadas. A iniciativa, que, também, juntou elementos locais da Associação Moving Cause e vários participantes do evento, decorreu ao som dos cantares tradicionais e das concertinas.
A ver por esta animada sessão (que até teve desgarrada), o trabalhar da lã reclama muita perícia às mãos: são estas que desempenham um papel crucial, de início ao fim, nos processos de carpiar e de fiar com a roca e o fuso. Depois de cardada (a lã), uma das mãos puxa-a da roca e a outra movimenta-a para determinar a respetiva espessura no fuso. O resto resulta do saber “mecanizado” que algumas das traquejadas fiadeiras exercitaram a cada movimento.
Dia de encerramento
Este domingo, terceiro dia do festival Ser EducAção, começou com uma caminhada no Mezio, numa área que foi consumida pelas chamas.
Ao mesmo tempo, na Casa do Povo, foi organizado um convívio intergeracional. Após o piquenique, os participantes fizeram “caça ao tesouro” e quem quis passeou a cavalo.
Findo o evento, repartido por três dias, sobra a conclusão de que a comunidade soajeira, em relação à edição inaugural, se envolveu um pouco mais na programação de 2016, através, principalmente, da recriação do fiadeiro, da oficina do pão e das atividades destinadas ao público infantil. Mas, de modo paradoxal, praticamente nenhum agente de Soajo ligado ao ensino (os professores locais são, deve dizer-se, quem melhor conhece o fenómeno no contexto espácio-temporal…) participou nos debates e círculos interativos sobre o tema da escola, nos quais até se ouviu falar de estratégias específicas para esta área do Parque Nacional…