Terminou, no dia 25 de novembro, o 127.º curso de Comandos, em que só um terço dos instruendos chegou ao fim. O soajeiro Pedro Rafael Gonçalves foi um dos 23 que receberam a boina vermelha e o respetivo crachá.
Ao Soajo em Notícia, Pedro Rafael diz que o irmão Vasco foi a maior inspiração de todas para chegar ao fim e mostra um sentimento de dever cumprido – “desistir seria uma vergonha” – por integrar o batalhão dos comandos onde a “união” é a base do “espírito de família” que lá se vive.
Confiante nas suas capacidades (psicológicas e físicas), o comando de Soajo pensa em abraçar novos desafios no futuro. O ingresso na Escola de Sargentos é apenas um deles.
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Quem é Pedro Rafael Gonçalves
. Idade: 19 anos
. Naturalidade: Soajo
. Habilitações literárias: 12.º ano (curso profissional Técnico de Energias Renováveis, nível IV)
. Passatempos favoritos: passear a cavalo e andar de motociclo
. Clube: FC Porto
Pedro Rafael Gonçalves: “No curso de Comandos, ninguém pode ficar para trás, é como o espírito de Soajo”
Que sentimentos experimentaste na cerimónia de entrega da boina?
Não dá para explicar o que senti ali… A grande emoção residiu no facto de ter conseguido juntar-me ao batalhão… Receber a boina não é, propriamente, uma coisa de outro mundo, o grande significado prende-se com o seu simbolismo.
O que é que vos disse o tenente-coronel [na sessão pública de 25 de novembro]?
Bem, deu-nos os parabéns e disse que passámos bastantes obstáculos devido aos acontecimentos de setembro.
Em que medida a pressão mediática influenciou a instrução?
Fora os acontecimentos que ocorreram no início de setembro, foi tudo mais ou menos tranquilo.
Qual o peso das componentes psicológica e física no curso de Comandos?
Quem não tiver uma grande capacidade psicológica não tem hipóteses. A parte psicológica é determinante, pois o físico é trabalhado no treino. Estando psicologicamente em baixo, o corpo não responde. Custa muito.
Em algum momento, equacionaste ou pensaste em desistir?
Nunca… Pontualmente, poderei ter pensado em parar ou deitar-me para o chão. Desistir ou ser eliminado do curso, para mim, seria uma vergonha… O orgulho falou sempre mais alto.
Nos momentos mais difíceis, em que(m) pensavas?
Pensava no meu irmão [Vasco Gonçalves] e na minha cunhada [Cristina Costeira]! Foram eles que me deram sempre muita força. Os estímulos da família e dos soajeiros foram, de resto, uma importante fonte de motivação. Incentivaram-me a “mostrar a raça de Soajo”… Houve, também, comentários a “puxar” pelos Cavacos, alcunha de família… Mas não posso esquecer outros colegas e amigos, nomeadamente o primeiro-sargento Lopes, grande camarada, igualmente comando…
O que é que ganhaste em termos pessoais com o curso?
Tornei-me mais forte, aprendi a ser mais organizado, intensifiquei o sentimento de camaradagem, reforcei a autoestima, adquiri técnica e muito conhecimento. Obtive, também, muitos saberes para a sociedade civil, alguns dos quais, eventualmente, nem sequer vou aplicar…
Qual o lema que prevalece no Regimento de comandos? É serem todos irmãos até à morte?
A camaradagem e a união, na verdade, estão acima de tudo. Tratamo-nos todos como uma família. Mal fomos incorporados no batalhão, disseram-nos “bem-vindos à família”. Ninguém pode ficar ali para trás, é como o espírito de Soajo.
O curso de Comandos é mesmo só para quem pode?
É, sim, para quem pode, mas pode dizer-se, também, que é para quem quer.
Que provas verdadeiramente difíceis tiveste de superar?
Não foi uma coisa do outro mundo… Mas uma das coisas mais complicadas é passar noites e noites no mato. Quanto ao resto, não há privações em termos de alimentação, há muito controlo. Nas provas fora do quartel, há rações de combate à base de enlatados e compotas. E, durante uns dez dias, tivemos feijoada e almôndegas… Também se comia “patê” de fígado de boi no meio do pão.
Concluído o curso de Comandos, qual a primeira grande missão?
Estou a preparar-me para uma missão na República Centro-Africana, que terá uma duração de seis meses. Talvez comece em fevereiro ou março.
E depois de realizada esta missão, que caminho queres trilhar?
Quero concorrer à Escola de Sargentos, formação de dois anos (um de curso, outro de especialidades). Neste curso, além das provas físicas de admissão, os candidatos têm de se submeter a exames de Português, Matemática e Inglês.
E, se superares este desafio, qual a meta que virá a seguir?
Se tudo correr bem, quero fazer Operações Especiais (em Lamego), o equivalente aos antigos rangers.
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Cerimónia de encerramento do 127.º curso de Comandos
Presidiu à cerimónia de entrega da boina vermelha o comandante das Forças Terrestres, tenente-general Faria Menezes, que, no Quartel da Serra da Carregueira, lembrou, com emoção, os dois militares falecidos, fazendo, ainda, referência ao respeito pela condição humana.
O 127.º curso de Comandos – que arrancou com 67 instruendos, no dia 4 de setembro – registou 27 desistências, 11 abandonos por indicação médica e quatro por falta de aptidão técnica, segundo anunciou o Exército. Mas esta polémica instrução ficou, sobretudo, marcada por duas mortes, além de vários internamentos, processos disciplinares e detenção temporária de instrutores.
O curso chegou ao fim, mas vai continuar, por certo, a encher manchetes nos próximos tempos, devido aos trágicos acontecimentos e ao elevado número de instruendos internados com sintomas atribuídos – alegadamente – a um “golpe de calor” sofrido no Campo de Tiro de Alcochete. O polémico curso, recorde-se, chegou a estar suspenso em setembro, durante uma semana, altura em que foram efetuados exames médicos complementares aos formandos, dados, entretanto, como aptos a prosseguir.
Contas feitas, a percentagem de militares que não acabou este curso foi de 66%, bem acima da taxa média (as estatísticas dizem que, historicamente, metade dos instruendos, com frequência nos Comandos, não termina a formação). Em declarações à rádio TSF, o porta-voz do Exército, tenente-coronel Vicente Pereira, admitiu que “as circunstâncias que rodearam o 127.º curso poderão ter contribuído para o elevado número de desistências”, sem adiantar mais pormenores sobre o que, eventualmente, poderá ter corrido mal.
Deste modo, enquanto não estiver concluída a investigação ao que motivou as mortes do furriel Hugo Abreu e do soldado limiano Dylan Silva, ex-aluno da Escola Profissional do Alto Lima, os (próximos) cursos de Comandos estão suspensos.
Dos 23 militares que acabaram o curso, 22 são praças (soldados) e um é sargento. Serão colocados, em dezembro próximo, no Regimento de Comandos, força do Exército (que, apesar de pequena, não apresenta falta de efetivos), até serem encaminhados para missões, talvez no decorrer do primeiro trimestre de 2017, sendo que o jovem Pedro Rafael Gonçalves deverá realizar uma operação internacional ao serviço das Nações Unidas em África.