Desde tenra idade que Francisco Mateus da Silva não sonhava com outra coisa: ser piloto. O sonho ganhou “asas” e acabou mesmo por se concretizar para este soajeiro que está radicado nos Estados Unidos da América.
Mas a aventura de Francisco começa na meninice. Com apenas seis anos, Francisco acompanha pais e irmãos e abraça o “sonho americano”. Destino: Nova Iorque, onde estuda e, ao mesmo tempo, trabalha (desde os 14 anos). “Em Providence, fazia anéis e fieiras. Era o que a malta fazia… Mais tarde, experimentei outras coisas, enquanto prosseguia os estudos até ao ingresso na universidade”, conta.
Frequentou Psicologia e Inglês. Escolheu a área de Psicologia para “entender melhor o próximo, os humanos” e esta “ferramenta tem sido importante para a vida toda”, realça.
Paralelamente, o gosto pela aviação foi sendo alimentado desde cedo. Começou a preparar-se “para voar, com 14 anos, nas avionetas” e, enquanto estudava, teve de “fazer muito treino para adquirir, aos 22 anos, a carta de primeiro nível”.
Olhando para trás, Francisco da Silva, de 54 anos, não se arrepende da rota que traçou. “Quando tive de fazer escolhas, preferi uma coisa que me pudesse dar prazer, no meu caso, a aviação deu certo”.
Entrou para os United States Marine Corps (em português: Corpo de Fuzileiros Norte-Americanos) e, durante sete anos, nos idos anos oitenta, beneficiou de um mundo apaziguado. “Felizmente, não participei em nenhuma missão internacional de risco, porque o conflito com o Iraque deu-se mais tarde”, conta.
Decidiu não continuar porque “a indústria militar (das forças aéreas) estava em profunda crise” e “não ganhava o que queria”, mas o bichinho ficou e, por isso, passou a colaborar com companhias particulares.
“Já transportei diretores executivos, empresários de renome e grandes jogadores do futebol americano, nomeadamente o quarterback Troy Aikman (do Dallas Cowboys), de quem guardo uma foto”, revela, orgulhoso.
Atualmente, soma 8 mil horas de voo e muitos sustos para contar, entre bloqueios de rodas, sobreaquecimentos de motor e condições climatéricas imprevistas. Nada que o fizesse desistir. Por isso, ainda faz voos particulares. “Por dinheiro”, explica. “Como tenho algum tempo livre fora do trabalho (presta apoio a bombeiros), substituo pilotos indisponíveis (doentes e de férias), na condição de não serem serviços prolongados (máximo de três dias)”, acrescenta.
Petróleo domina economia do Texas
Depois de entrar nos Estados Unidos pela cosmopolita Nova Iorque, Francisco da Silva, por contingências profissionais (aviação), mudou-se para o Texas, “região onde quase não há portugueses”. “Fiquei a gostar do Texas, é perto da praia, a economia é pujante, a indústria do petróleo (com as refinarias) é a sua força principal… Aqui, há muito trabalho, por isso é que digo ao pessoal que está em Boston e Nova Iorque para vir para a região do Texas”, salienta.
Sobre o polémico Donald Trump, o conterrâneo prefere esperar, antes de fazer um juízo final. “Vamos ver o que o futuro vai dizer… Deus queira que o mundo melhore”, exorta, ao mesmo tempo que explica a mudança operada no país que é o dínamo da economia – “quando os Estados Unidos têm tosse, o resto do mundo já está com febre”, compara, caricaturando.
“As pessoas estavam cansadas da administração do Partido Democrata, a eleição de Trump foi um voto contra o sistema, era preciso sangue novo, porque o que vinha do outro lado era mais do mesmo… A meu ver, o Trump ganhou porque não é político nem usa de diplomacia… Até ver, a malta confia no estilo dele, não deve favores a ninguém”.
Mas Francisco não esquece as raízes e de Soajo guarda “boas memórias”. “Tenho grande amor por Soajo, nasci aqui, gosto muito da natureza e das montanhas, mas, apesar disso, estamos a 45 minutos de Viana do Castelo, onde se pode desfrutar do mar, que eu adoro”, diz este soajeiro, igualmente apreciador da gastronomia portuguesa e do vinho verde que, “com alguma dificuldade”, também se consegue encontrar no Texas.
Os quatro filhos de Francisco da Silva têm formação superior – duas enfermeiras, um engenheiro e o benjamim é desenhador industrial para refinarias – e retratam bem o grau de qualificação das segunda e terceira gerações, que “assim podem elevar o nível de vida em relação ao dos pais”.
A passar uma temporada na terra natal, Francisco da Silva está de malas feitas e preparado para o voo de volta… como passageiro.