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Soajo em Notícia

Este blogue pretende ser uma “janela” da Terra para o mundo. Surgiu com a motivação de dar notícias atualizadas de Soajo. Dinamizado por Rosalina Araújo e Armando Brito. Leia-o e divulgue-o.

Soajo em Notícia

Este blogue pretende ser uma “janela” da Terra para o mundo. Surgiu com a motivação de dar notícias atualizadas de Soajo. Dinamizado por Rosalina Araújo e Armando Brito. Leia-o e divulgue-o.

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Diz-se que a juventude portuguesa está paralisada e sem ideias, mas, em Soajo, há jovens a empreender e a desafiar o risco através da criação do autoemprego.

Desde o passado dia 11 de junho que a vila de Soajo passou a dispor de um espaço dedicado à beleza e estética. E, noutro ramo, é já esta quarta-feira, 1 de agosto (pelas 17.00), que será inaugurada a loja “I heart Soajo”, completamente virada para os produtos locais.

“Pink” é o nome do espaço que Tatiana Martinho tem a funcionar nas proximidades do Largo do Eiró. Porquê Pink (“rosa”, em português)? “Porque gosto de rosas”, responde a jovem de 22 anos, contente por tratar da beleza e do bem-estar das mulheres de Soajo, que assim escusam de ir à sede do concelho para esse efeito.

“No âmbito da minha formação, faço vários tratamentos nas áreas da estética e da beleza (depilação, por exemplo). E uma segunda profissional que está comigo faz massagens no gabinete”, explica Tatiana Martinho, que, depois de ter ficado sem trabalho, preferiu o arrojo ao comodismo, investindo na criação do próprio emprego.

Entretanto, na véspera de abrir o próprio negócio, Marta Batalha promete transformar a loja (Rua dos Espigueiros) numa porta de entrada para os sabores e saberes de Soajo.

“Trata-se de um espaço para venda de produtos artesanais e regionais, sejam estes meus ou de outros produtores locais que queiram escoar o que têm de melhor. Posso garantir que tudo o que entrar aqui será de produção 100% artesanal”, diz a promotora de 33 anos, apostada em facultar aos visitantes o máximo de informação possível para um roteiro de vários dias por Soajo.

Na festa de abertura, “serão servidas bebidas e comidas regionais, acompanhadas de música tradicional e muito boa disposição”, lê-se no cartaz que acompanha a divulgação do evento.

A funcionar em horário alargado no verão (8.30-18.30) a partir de 2 de agosto, a loja terá um cabaz de produtos recheado e de qualidade superlativa: mel, compotas, licores, vinho a granel, sabonetes naturais, bálsamos, bonecas, pinturas e muito mais…

À parte estas duas iniciativas, o blogue Soajo em Notícia dará a conhecer no futuro os vários agronegócios (e não só) instalados no território.

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IMG_2198Desde há muito que não são particularmente amistosas as relações entre Soajo e o Parque Nacional (PN), mas nunca o discurso institucional tinha sido tão hostil como foi na abertura da Feira das Artes e Ofícios Tradicionais (FAOT), onde, sem paninhos quentes, o presidente da Junta de Freguesia visou, diretamente, o organismo que administra aquela Área Protegida.

“Penso que não há, aqui [sessão solene de inauguração da FAOT], nenhum representante do Parque Nacional. Diz que ‘só temos deveres’, mas direitos não temos nenhuns. Nem o de reclamar! Mas, pela alma de quem lá tem, o PN que nunca mais venha a Soajo, porque não faz cá falta nenhuma!”, desabafou Manuel Barreira da Costa.

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Há um soajeiro a trabalhar há meses para as comemorações do fim da Primeira Grande Guerra, que serão assinaladas neste concelho no dia 11 de novembro de 2018, coincidindo com o centenário do Armistício. O protagonista de que se fala é Manuel Rodas, tal como Jorge Pires (enfermeiro e militar da Marinha, natural de Miranda), coautor do trabalho que já foi entregue na Câmara Municipal.

“O livro inclui o levantamento de mais de trezentos arcuenses que participaram na Primeira Grande Guerra [1914-1918]”, revela o edil João Manuel Esteves.

Com base nas pesquisas feitas, “a participação portuguesa – no dizer de Nuno Soares – teve uma característica muito própria: houve a frente europeia e, em larga escala, a frente africana. […] Toda a gente fala da Batalha de La Lys, mas a frente africana foi mais importante para a realidade de Portugal, que esteve mais envolvido na frente africana”, desvenda.

Segundo o chefe da Divisão Sociocultural, quando os dois estudiosos “começaram a analisar a documentação, verificou-se um pormenor que o livro regista muito bem: os militares, em vez de surgirem com o local de morte e de sepultura, aparecem associados a pontos com coordenadas”, conta.

“Essas coordenadas apontavam para o alto-mar, ou seja, muitos deles, quarenta e tal, faleceram no percurso do barco, vitimados por doenças, e foram sendo atirados ao mar. O mapa que faz a cartografia dos sítios onde eles foram lançados à água é impressionante! O nosso contingente foi o que sofreu mais com esta realidade”, acrescenta Nuno Soares.

Correlativamente, o elemento escultórico a inaugurar no referido 11 de novembro “vai ter estas duas dimensões, especificando a frente europeia, com um número inferior de baixas, e a tal frente africana”, conclui o responsável pela Divisão Sociocultural do Município.

O monumento será esculpido pelo artista Bruno Antunes.

MRFoto: Alamy (Arquivo)

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Não é assim tão raro no verão (principalmente): por falta de dinheiro na caixa Multibanco instalada no Eiró, não se consegue fazer levantamentos. Foi o que aconteceu esta quinta-feira de manhã.

No estio, sabe-se que a população residente duplica (ou triplica) e o fluxo turístico dispara, mas a agência concessionária teima em não conseguir adaptar o serviço ao aumento da procura.

Como sucede em tantos domínios, os custos da interioridade também se repercutem na degradação deste serviço, situação que seria colmatada com carregamentos mais regulares da caixa Multibanco, sem que haja nisto qualquer responsabilidade dos operacionais afetos às carrinhas de transporte de valores.

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Não são propriamente uma novidade, mas, na falta de obra substancial, o Município de Arcos de Valdevez teima em anunciar projetos para Soajo que não saem do papel há anos.

O edil João Manuel Esteves, por ocasião da abertura oficial da 19.ª Feira das Artes e Ofícios Tradicionais, recordou propostas apresentadas em anos precedentes.

“Temos ideias para embelezar o Largo do Eiró, temos ideias e projetos para os passadiços e, provavelmente, para requalificar toda a zona do Poço Negro, temos ideias para outros locais para fazer circuitos turísticos, recuperar o espaço da antiga casa da câmara e reconvertê-la num museu de interpretação etnográfica, fazendo desse um projeto que mobilize Soajo e os soajeiros”, enunciou o presidente da Câmara Municipal.

De lembrar, que excluindo o parque infantil e o arranjo urbanístico que foi executado nas imediações do Restaurante Videira (onde só no próximo mês de agosto deverá ser colocada a escultura dos 500 – ou 504? – anos do Foral de Soajo), quase nenhum investimento direto do Município tem sido canalizado para Soajo nos últimos tempos (e menos ainda para os lugares).

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Foi autorizada, pela Câmara Municipal, a abertura de inquérito público para a área de reabilitação urbana (ARU) de Soajo (vila).

“A grande questão prende-se com um conjunto de benefícios fiscais, nomeadamente reduções de IMI, IMT, IFRRU e IVA, que poderão funcionar como incentivo à reabilitação de espaços [imóveis] que beneficiam do facto de estarem localizados em áreas classificadas e com grande dinâmica turística”, refere o Município.

Foto: Município de Arcos de Valdevez

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O Poço das Mantas oferecerá este ano condições ideais para os veraneantes, depois das operações (lavagem e reparação) realizadas estes dias.

Foram feitos trabalhos de cimentação para evitar a fuga de água no poço de cima, que, devido à perda de água, apresentava um nível inferior ao projetado. A intervenção visou tornar a atividade balnear mais aprazível, possibilitando, ao mesmo tempo, uma eficaz renovação da água.

Complementarmente, procedeu-se à limpeza da vegetação crescida nas imediações das lagoas. Também o parque de estacionamento que serve os veraneantes do Poço das Mantas ostenta um aspeto cuidado, aproveitando-se, ainda, este idílico espaço para piqueniques.

Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, o verão deverá continuar “envergonhado” uns dias mais…

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 Fotos: Soajo em Notícia e Fernando Gomes

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O filme A Aldeia Solitária, baseado no livro Manual de Ramil, de Manuel Rodas, será exibido no salão da Casa do Povo de Soajo no próximo dia 11 de agosto (21.00).

“O filme está dividido em duas partes: a primeira recupera a experiência que Manuel Rodas viveu em criança, tal como é narrada por ele no livro; a segunda veicula a mensagem de que temos de fazer alguma coisa para combater a desertificação das terras do interior”, disse ao blogue Soajo em Notícia Carlos Silveira.

O projeto nasceu, quase por acaso, há dois anos, quando o realizador em trabalho de filmagens no Parque Nacional ruma à vila de Soajo, onde acaba por adquirir o volume Manual de Ramil. “Gostei muito do livro e, depois de contactar o autor, decidimos transformá-lo em filme”, conta Carlos Silveira, que guarda na retina as imagens de uma Várzea esvaziada e dos espigueiros desmoronados. 

“No interior de Portugal, há muito que o tempo passou e todos se esqueceram dos que ousaram ficar pelo interior rural. E o êxodo não é só humano. [Tudo foi] desaparecendo do interior. Só restam as aldeias solitárias, abandonadas e as recordações da casa da floresta, das desgraças e das tristezas, do medo e das partidas, das cantigas e das danças, da esperança”, lê-se na ficha de promoção da película.

Bem acolhida pela crítica, esta curta-metragem já foi selecionada para o Festival da Figueira da Foz a realizar em finais de agosto e para um Festival Internacional do Porto a ocorrer em meados de setembro.

A Aldeia Solitária, com textos de Manuel Rodas e Carlos Silveira, recorre a não-atores de Soajo e tem cerca de 24 minutos de duração.

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“Há oportunidades em Soajo, podem não ser as mesmas do antigamente e as que existem agora na diáspora, mas há algo a acontecer nas áreas de animação turística, do alojamento e da restauração”. O convite de João Manuel Esteves foi feito na inauguração oficial da Feira das Artes e Ofícios Tradicionais no passado dia 13 de julho.

O apelo do edil – que, em 2017, já tinha desafiado as gentes da Terra espalhadas pelo mundo a voltarem às origens na sequência da forte vaga de emigração desencadeada pela crise – resulta das potencialidades do território e das necessidades detetadas localmente. “Esta terra [Soajo] tem muito de bom (o património natural, o construído e as pessoas) e muito para oferecer em termos de oportunidades”, acrescentou João Manuel Esteves.

“Temos de olhar para a grande comunidade de emigrantes que Soajo tem no estrangeiro e dizer-lhes que podem investir, recuperar casas e ser parceiros em oportunidades de negócio”, exorta o autarca.

O discurso do poder municipal é similar à estratégia do Governo Central, mas, independentemente das boas intenções (politicamente desarticuladas do essencial), há um paradoxo que a maioria dos leitores não deixará de questionar: voltar a casa para ganhar 500 euros por mês na restauração será suficientemente estimulante?

Não é isto, com toda a certeza, que os agentes políticos querem para os filhos deles…

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Realizou-se, de 13 a 15 de julho, a 19.ª edição da Feira das Artes e Ofícios Tradicionais (FAOT), com cerca de quarenta espaços de negócio e um programa que aliou a tradição às atividades de lazer. Entre gastronomia, produtos locais, artesanato, concursos, provas de vinhos, passeios, concertos, cantares ao desafio, rusgas, recriações do mundo rural e teatro, também foram realizadas duas exposições, uma de fotografias (fauna, flora e património) e outra de reconstituição da casa do juiz.

Com uma programação aumentada (recuperaram-se alguns concursos do passado e pôs-se de pé um rico cartaz histórico-cultural) e um novo figurino (a realização estática desenvolveu-se em três espaços diferentes: Campo da Feira, Largo do Eiró e “cerca” de animais perto do Café Jovem), eram legítimas as expetativas de se ter uma edição para recordar, mas, no dizer de vários participantes, não foi bem isso que aconteceu, excluindo as três organizações de domingo à tarde que superaram as melhores expetativas.

Mas voltemos ao início. Quando se deixa um doente moribundo anos a fio, é muito difícil recuperar o estado de saúde em pleno. E esta imagem pode muito bem aplicar-se à FAOT: a realização "foi morrendo aos poucos" e só agora é que a organização "despertou" para o problema. Parece demasiado tarde para compensar anos e anos de inércia, mas é de louvar o esforço que foi feito, a começar pela Junta e pela Câmara, em parceria com as associações soajeiras (praticamente as mesmas do ano passado).

Influenciada pela estagnação de edições recentes, a mostra de artesanato e de ofícios tradicionais, que, originalmente, foi a razão de ser do certame, voltou a ter uma participação reduzida, embora as famosas construções (espigueiros...) expostas para venda sobressaíssem pela qualidade. Também escassearam os produtores de vinho, licores, compotas, queijos, ervas aromáticas e, até, as “barracas” de alimentação (no prato) e derivados se fizeram notar pela reduzida presença, mas o negócio prosperou para os poucos promotores que montaram espaços de “tasquinha”, onde foram degustados os típicos produtos da endogenia, como os fumados e a boa carne da zona, sem esquecer a gastronomia caseira (pataniscas, rissóis, bolinhos de bacalhau, bifanas, panados e caldo-verde).

O stand da Serrana Gourmet, como já é habitual, foi um dos mais procurados. “Os produtos que mais saíram foram paté de tomate e o tomate seco”, apontou Teresa Araújo, em representação de Lisa Araújo e Rose Marie Galopim. No expositor do lado, Debra Abelheira não teve mãos a medir na venda do famoso pão-de-ló de Soajo. “As entrevistas promocionais na RTP e na TVI levaram muitos clientes à padaria e, por causa da grande procura, tivemos de repor várias vezes o stock neste espaço da Feira [à hora destas declarações, por volta das 19.05 de domingo, nova remessa desta iguaria que dá nome a Soajo é largada no expositor]”, realça a promotora, que, segundo contou, já tinha recebido chamadas dos Açores e do Porto.

Os produtores de vinhos, como já se disse, estiveram pouco representados no idílico recinto do Campo da Feira, mas a Associação dos Vinhos Verdes de Valdevez (AVAV) fez as honras do setor que tem cada vez mais impacto na economia local.

As provas comentadas de sabores, numa perspetiva de harmonização entre vinhos e produtos regionais (enchidos ‘Sabores de Vez’ e pão-de-ló de Soajo), mostraram que “o produto do Minho casa na perfeição com o vinho do Minho”, sublinhou Vasco Lima.

A este propósito, o técnico Vítor Correia escolheu “um vinhão muito clássico em termos de sabor”, o Paço Velho, para acompanhar a chouriça de cebola. “É um vinho tranquilo, aromático (cheira intensamente a uva), tem uma curtimenta longa, não é um vinho gaseificado e possui uma acidez residual […], obedecendo aos cânones tradicionais dos vinhos tintos”, explicou o vice-presidente da AVAV.

Para o especialista, “os vinhões, para além de casarem perfeitamente com a chouriça de ceboleira, são ótimas para acompanharem iguarias gordas e pesadas como sarrabulho, lampreia, compotas de laranja e sardinhas assadas”, destacou Vítor Correia.

E o húmido pão-de-ló de Soajo irá bem com o quê? “Casa muito bem com um bom queijo da serra ou com um bom gelado (de tangerina, frutos vermelhos e baunilha), mas pode ficar solteiro, não precisa de casar necessariamente”, gracejou Debra Abelheira. E, na palavra de Vítor Correia, o pão-de-ló pode ser harmonizado com um excelente vinho verde como o da Casa da Serra (“vinho tranquilo, sem gás, de meia encosta ou encosta em progressão, marcado por frutos tropicais como maracujá”) ou um rosé.

Para além dos bons petiscos e da boa doçaria, Soajo é vila conhecida, também, por ser uma Terra com ricas tradições, que, apesar de estarem a cair em desuso, ainda assim, vão sendo recriadas pelas associações locais de tempos a tempos. Foi isso que se fez ontem, domingo, ao promover um programa que ajudou o público a “descobrir” e/ou a reviver os “velhinhos” carros de vacas e a malhada tradicional do milho… para dizer de onde vem o povo soajeiro.

Os sete primitivos meios de transporte (carregados de mato, giesta, feno, lenha, dorna e arado), três dos quais com rodas e eixos de madeira, percorreram as labirínticas ruas do centro histórico de Soajo, desde o Largo do Eiró até às imediações do Campo da Feira (passando pelo Caminho de Carreiras), e daqui ao ponto de partida pela Avenida 25 de Abril, num cortejo dominado pelos cantares típicos da terra, pela concertina e, claro, pela farta chiadeira. As mulheres vestiram-se a rigor e traziam tudo o que tinham e o que era preciso na labuta campestre: foucinhões, engaço, cajado, farnel…

Os animais vieram, na sua grande maioria, de outras freguesias e, até, do concelho vizinho de Ponte da Barca. António Vasconcelos, de Gondoriz, foi quem encabeçou o desfile na dianteira do primeiro carro atolado puxado pelas vacas, revelando, como os restantes “condutores”, grande coordenação e perícia. O "soajeiro" Gonçalo Dias (“Janeiro”) era o único a representar a terra anfitriã, porque já (quase) ninguém em Soajo tem gado vocacionado ou destinado a estes trabalhos (a força dos animais para puxar os carros com carga foi substituída há muito tempo pelos tratores).

“Antigamente, trabalhávamos com estes carros de vacas e era assim que se carregavam as coisas”, solta uma mulher. Ao lado, uma espetadora mais jovem responde que este “era um trabalho que não dava grande rendimento”.

Em tempos idos, na verdade, era do milho que provinha a riqueza do povo soajeiro. Para lembrar isso, foi reproduzida, ao som das concertinas e dos cantares da Terra, a malhada tradicional do milho na Eira do Penedo, num cenário de rara beleza. A assistência aplaudiu a atividade que apela à tradição e à memória, mas, hoje em dia, já (quase) ninguém faz malhadas nos moldes tradicionais.

Finda esta recriação, o público (uma grande maioria de soajeiros) começou a dirigir-se para o Largo do Eiró, onde o programa histórico-cultural de domingo teve um remate sublime com a bem-sucedida dramatização da peça O Juiz de Soajo, com vivas a Sarramalho, “o melhor, o mais justo, o mais digno e o maior da serra”.

Considerado o “símbolo da inteligência e da justiça de todo o povo da vila de Soajo”, o juiz de Soajo proferiu a sentença relativa a um crime de morte do qual foi, ele próprio, testemunha: “Caros soajeiros, que o homem morra, que não morra, dê-se-lhe um nó que não corra, degradado por toda a vida. Tem cem anos para se preparar…”, condescendeu o juiz de Soajo, superiormente representado por António Cerqueira (“Catito”). Só que a sentença não foi acatada pela maioria das pessoas e, por isso, houve recurso a instâncias superiores.

O juiz serrano, intimado a aparecer naquela que “devia ser a casa do Tribunal da Relação do Porto”, admitiu que “não temos os livros das leis, mas temos uma alma para salvar e uma consciência para nos guiar. Mataram um homem na serra, sem dúvida, e outro, andávamos no trabalho, foi culpado e preso. Que culpa há ai? Nenhuma, nenhuma, senhor juiz… Mas eu sabia que esse homem estava inocente e que alguém o havia de salvar”, defendeu, antes de justificar, a pedido do juiz desembargador do Porto, os termos da sentença lavrada por ele.

“Que morra o criminoso que anda à solta, encontre-se ele onde se encontrar. Que não morra o inocente, o braço útil de trabalho. […] Dei cem anos ao mocinho para ele se preparar até à verdade chegar. Porque amamos o degredo da nossa vida, então, que dure cem anos”, explicou o juiz soajeiro que, assim, convenceu o juiz desembargador do Porto, do qual se despediu sem dó nem piedade.  

“O juiz de Soajo, cadeira onde se sentou, nunca consigo a levou. E, mais do que isso, a partir de hoje, serei eu o desembargador de Soajo”, atirou o juiz Sarramalho, que, no regresso a Soajo, foi recebido com “vivas” e a todos agradeceu, de peito cheio, com uma declaração sintomática da força que invade o povo soajeiro: “os serranos também sabem defender-se”.

Supletivamente, uma outra iniciativa que remeteu para a essência da localidade disse respeito à exposição “Soajo, o Tempo e a História” (patente no espaço da antiga Câmara), que, com grande diversidade de pormenores, recriou, quase na perfeição, a casa do juiz. Pena que, devido à deslocalização dos expositores para o recinto do Campo da Feira, a exposição não tivesse a visitação que merecia, mas quem viu ficou maravilhado com as relíquias cedidas por particulares, todas cheias de história e muito bem cuidadas. Foi o caso de um grupo de Aveiro (com dois barquenses de origem, entre eles Sidónio, antigo guarda-redes do Sporting) que engraçou com os trajes típicos de Soajo e a galeria de fotos. Nesta “viagem” ao passado, outros não largaram da vista a despensa improvisada, a suposta mesa do juiz, as vetustas atas (talvez centenárias), os volumes que contam a História de Soajo, o louceiro, os fumados pendurados, os tamancos, a cesta de merenda com sardinhas salgadas…

No mesmo registo de mostra para encher o olho, também a exposição “Fauna, Flora e Património” (no Centro Social e Paroquial) serviu para lembrar aos visitantes a riqueza de fauna e de flora que povoa o território de Soajo, uma Terra bafejada pela natureza em estado puro e pelo património construído de rara beleza. Muito faltou retratar na verdade, mas estava lá o essencial: serra, água, trilhos, pontes, espigueiros… Uma legenda explicativa seria “um rio corre e desce com pujança em cascata e cai em lagoas com vegetação verdejante e património à volta (pontes, moinhos, levadas…)”. É agora na época alta que os passeios para exploração das paisagens tendo a água e a serra como elementos de eleição são muito procurados para evasões que fazem bem ao corpo, à mente e ao ambiente.

É da serra, aliás, que ainda provém uma parte da sobrevivência do povo soajeiro, como a produção de mel e a criação de gado. Este ano, fazendo jus ao peso socioeconómico destas áreas de atividade, a organização recuperou os (extintos) concursos dedicados à apicultura e à pecuária (raças barrosã, cachena e minhota). O primeiro contou, é certo, com apenas sete concorrentes, mas dezenas de produtores de gado levaram a concurso os seus melhores exemplares. Só que ao evento não está associado qualquer conceito de feira: os criadores que chegam para o concurso descarregam os animais dos veículos, colocam o gado em posição de ser avaliado pelo júri e, muitos deles, “sacam” prémios generosos num abrir e fechar de olhos. Claro que este formato é do agrado dos participantes vencedores.

Para além disso, alguns concorrentes disseram ao blogue Soajo em Notícia que “há favoritismo na atribuição dos prémios”, no entanto, a organização garantiu na cerimónia de entrega de troféus e dos respetivos valores pecuniários que “só ganha quem participa com muitos animais e quem trata bem deles o ano todo”

Entretanto, segundo o presidente da Cooperativa Agrícola de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca, os criadores de gado cacheno nas freguesias serranas do concelho arcuense possuem “mais de 2900 das 4 mil e tal cabeças existentes no Parque Nacional com certificado DOP”, representando Arcos de Valdevez mais de 70% do efetivo.

“Os produtores merecem um louvor, porque temos apresentado uma excelente carne. É um incentivo o facto de estarmos a aumentar a tiragem e a qualidade dos animais. A FAOT também serve para isso”, congratulou-se José Carlos Ribas Gonçalves.

À parte o concurso, desenvolveu-se, em local distinto e em permanência, uma pequena mostra de gado, na qual o criador soajeiro António Cerqueira se fez representar com um pequeno rebanho (ou, mais rigorosamente, um fato) de cabras. “Os quarenta caprinos que tenho saem de manhã, pelas 11.00, com os cães pastores e regressam ao ponto de partida entre as 18.00 e as 19.00… Não dão trabalho nenhum”, desvenda.

 

Balanço

No fim desta realização, a conclusão que sobra é que, depois da enorme fase de estagnação, foi feito, apesar de tudo, um esforço conjunto no sentido recuperar o prestígio da organização. Pela positiva, de realçar o programa de cariz etnográfico, o regresso dos concursos e as instrutivas provas comentadas de vinhos em simbiose com os produtos de base local/regional.

Em comparação com edições anteriores, de notar, ainda pela positiva, a abolição dos grupos de bombos, que foram, em 2017, um elemento de incómodo pelas longas e ruidosas arruadas, com visível dispersão de público. Na vez deles, a Fanfarria Taquikardia deixou um rasto de qualidade e de entretenimento no recinto do Campo da Feira e no palco instalado no Largo do Eiró no sábado, que teve uma tarde “morta” no dizer de vários expositores, sensação que o encontro das rusgas populares à noite ajudou a amenizar.

Inversamente, algumas das opções não ajudaram nada ao relançamento da organização. A principal é a data de realização da FAOT. A grande massa de emigrantes só começa a chegar perto do início de agosto e é o poder de compra da comunidade que ganha a vida fora do torrão natal que faz a diferença no negócio. Por outro lado, também não concorreram para o desiderato a tardia apresentação do programa (ainda por cima, sem qualquer menção ao local de realização de eventos como os concursos do mel e do gado…), a ausência de palestras ligadas ao mundo rural e a inexistência de demonstrações artesanais ao vivo. E é muito discutível a qualidade do humor de Fernando Rocha, assim como a eficácia que a emissão da TVI traz em termos de investimento reprodutivo.

A FAOT de 2018 emparceirou as entidades que já tinham estado envolvidas na organização do ano transato (Junta de Freguesia de Soajo, Câmara Municipal de Arcos de Valdevez-ARDAL, Associação Desportiva e Cultural de Soajo, Rancho Folclórico de Vilarinho das Quartas, Rancho Folclórico das Camponesas da Casa do Povo da Vila de Soajo, Cantadeiras de Soajo, Centro Social e Paroquial de Soajo e Casa do Povo). A estas, juntaram-se este ano os Baldios de Soajo, a Cooperativa Agrícola de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca e a Associação dos Vinhos de Arcos de Valdevez.

Uma palavra especial aos voluntários e à boa vontade dos soajeiros que rechearam a casa do juiz, que, por lapso, na cerimónia de abertura, não foram lembrados. Também não devem ser esquecidos os proprietários dos terrenos que permitiram a realização do concurso pecuário e a mostra de gado (ovino, caprino, bovino, equino…).

Uma referência final para o elenco da peça O Juiz de Soajo, cujo desempenho foi motivo de “orgulho” para as encenadoras Albertina Fernandes e Margarida Dias.

“[…] Atores de muita qualidade. Fica na nossa memória a ‘Gente Honrada de Soajo’. Que bem aprenderam! Com que entusiasmo e responsabilidade!”, assim resumiu Albertina Fernandes o sentimento das irmãs que, superiormente, idealizaram a encenação que encerrou em grande estilo a 19.ª edição da FAOT.

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Vencedores do concurso do gado

. Raça barrosã

- Touros com mais de três anos: Florbela Rocha (1.º prémio) e José Pereira Brito (2.º prémio).

- Novilhos entre dois e três anos: Maria Glória Fernandes.

- Novilhos até dois anos: Estêvão Jesus (1.º prémio), Florbela Rocha (2.º), Maria Glória Fernandes (3.º e 4.º) e José Pereira de Brito (5.º).

- Vacas após três anos ou com parto: Fernando Coelho (1.º prémio), Estêvão Jesus (2.º), Fernando Coelho (3.º), Alexandra Rocha (4.º), Joaquim Sousa Araújo (5.º e 6.º) e José Pereira de Brito (7.º e 8.º).

- Novilhas entre dois e três anos: Fernando Coelho (1.º e 6.º prémios), Alexandre Rocha (2.º), André Mota (3.º e 4.º) e Filipe Ricardo (5.º).

- Novilhas até dois anos sem parto: João Carvalhosa (1.º prémio), Fernando Coelho (2.º), Florbela Rocha (3.º), Alexandre Rocha (4.º), Joaquim Araújo (5.º), Estêvão Jesus (6.º), José Pereira de Brito (7.º) e Maria Glória Fernandes (8.º).

 

. Raça cachena

- Touros com mais de três anos: Maria de Lurdes Costa (1.º e 3.º prémios) e Maria Glória Fernandes (2.º).

- Touros entre dois e três anos: Maria Olívia Cerqueira (1.º prémio), Maria Lurdes Costa (2.º) e Maria Glória Fernandes (3.º).

- Novilhos até dois anos: Maria de Lurdes Costa (1.º e 5.º prémios), Estêvão Jesus (2.º) e Maria Glória Fernandes (3.º e 4.º).

- Vacas após os três anos ou com parto: Estêvão Jesus (1.º e 3.º prémios), Maria Olívia Cerqueira (2.º, 7.º e 8.º), Paulo Moura (4.º) e Maria Lurdes Costa (5.º e 6.º)

- Novilhas dos dois aos três anos: Maria Olívia Cerqueira (1.º e 5.º prémios), Maria Lurdes Costa (2.º e 3.º) e Maria Glória Fernandes (4.º).

- Novilhas até dois anos sem parto: Maria de Lurdes Costa (1.º e 2.º prémios).

 

. Raça minhota

- Touros com mais de três anos: Maria Glória Fernandes (1.º e 2.º prémios).

- Novilhos entre dois e três anos: Paulo Alexandre Araújo (1.º prémio).

- Novilhos até dois anos: Paulo Alexandre Araújo (1.º prémio), Joaquim Sousa Araújo (2.º) e Maria Glória Fernandes (3.º e 4.º).

- Vacas após três anos ou com parto: Joaquim Sousa Araújo (1.º prémio), Paulo Alexandre Araújo (2.º), Manuel Costa da Silva (3.º) e Maria Glória Fernandes (4.º).

- Novilhas entre dois e três anos sem parto: Maria Glória Fernandes.

- Novilhas até dois anos sem parto: Maria Glória Fernandes (1.º e 2.º prémios).

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. Prémios de presença pelos participantes do concurso de beleza dos equinos

- Garanhões: António Martins Veloso e José Manuel Veloso.

- Éguas afiadas: José Manuel Antunes.

- Poldros com um ano: Maria de Fátima Esteves.

- Poldros com três anos: José Manuel Antunes.

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Premiados do concurso do mel

. Agostinho Costa (1.º prémio).

. Augusto Pereira (2.º).

. António Neto (3.º).

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