Costuma dizer, com “muita ironia” e com “muita vaidade”, que é “mulher de um homem só, de um partido só e de um clube só”. Foi ‘só’ a primeira mulher soajeira a tirar uma licenciatura, corria o ano de 1976, e logo no exigente curso de Medicina.
Conta que uma das maiores alegrias que teve até hoje foi ter ajudado uma menina a salvar a mão direita. De permeio, não se cansa de lembrar visitas, em tempos idos, a uma freguesia como Carralcova, sem vias de comunicação, para transportar indivíduos em carros de bois, como o caso daquele indivíduo que tinha um colchão por baixo, por causa da fratura do colo do fémur.
A mulher de que fala, ela própria um “pedaço” de História de Soajo, é a médica Elisabete Fernandes Barbosa, que está a poucos dias de completar 69 anos.
Com uma vasta carreira profissional, a entrevistada tem no currículo a experiência de 22 anos como orientadora de formação na área de clínica geral.
“Os meus internos ainda hoje falam de mim, trabalharam comigo ombro a ombro enquanto sabiam pouco ou nada, sempre com autorização do doente. Depois, foram tendo autonomia no tempo certo”, conta, com orgulho.
Diz que, como profissional de saúde, tem a responsabilidade de “cuidar da população”, de “ensinar as boas práticas”, de ajudar cada estagiário a “ser bom médico e a ser boa pessoa”.
“Nesse papel, dei a mão a todos aqueles que quiseram. Claro que deixava de dar a mão quando me deixavam a mão para trás ou me empurravam”, acrescenta Elisabete Barbosa, sem rodeios.
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Como foi a sua infância em Soajo?
A minha infância em Soajo foi um bocado mais privilegiada do que a das crianças com a minha idade. Eu era neta de um avô reformado, dos Estados Unidos, já não era o trabalhador da terra, mas era o trabalhador da terra e o patrão da terra. Tive, portanto, uma infância remediada, com satisfação das necessidades básicas.
O que é que havia à época em Soajo?
Quando eu era pequena, já havia Casa do Povo, a minha família era sócia da Casa do Povo, portanto, eu tinha direito a médico gratuito, como agora acontece no Centro de Saúde; a medicação, parece, também se pagava uma percentagem, mas não estou bem por dentro do assunto.
Quer falar da vida familiar?
Tive o problema que têm todas as crianças que são órfãs de vivos, coisas que nos martirizam a vida toda, mas, provavelmente, ou por capacidade que me deu a formação ou pela capacidade que o ADN me deu, consegui ultrapassar tudo isso.
Conheci o meu pai aos 18 anos, vivi sem o apoio dele. Cresci com a minha mãe e com o meu avô, a quem chamava pai, por sinal. Fiz a escola em Soajo, com excelentes professores. À época, era uma escola muito boa.
Em que medida é que estes condicionalismos a tornaram mais forte?
Começo a pensar que fiquei mais forte porque usei estas situações – que podiam levar-me a desistir – para ir à luta.
Quais as principais ‘lutas’ que foi ultrapassando pela vida fora?
Por exemplo, todas as crianças tinham prendas pelo Natal ou os pais vinham/iam para troca de prendas. O meu [pai] nunca vinha. Portanto, eu nunca tinha nem podia contar uma história onde entrasse o meu pai. […] Mas eu criei essas histórias para contar.
Depois, tive a imagem de homem, de um homem muito sério e muito bom, que foi o meu avô, pai da minha mãe. Tive, posteriormente, já aluna da faculdade, e quase médica, a imagem do meu sogro, de carinho e de proteção. E claro o marido que aqui não está por imagens, por serem coisas completamente diferentes, mas que, na verdade, também foi um protetor.
Qual o lugar dos valores da retidão e da honestidade?
Quer a minha mãe, que era uma rural, com a terceira classe (na altura as mulheres nem iam para a escola), quer o meu avô, um antigo regedor, tinham uma noção de justiça que era uma coisa que ultrapassa tudo.
Lembro-me, por exemplo, de que as pessoas assalariadas, quando tinham de comer, comiam com todos na mesma mesa, e, quando tínhamos de comer no chão, comíamos todos no mesmo chão.
A Elisabete, em pequena, destacou-se logo na escola. O que diziam da futura médica?
Dizia a senhora professora que me salientava, sim… E, depois, alguém disse ao meu pai que estava longe, que não nos escrevia nem queria saber de nós, que eu era “muito espertinha” e que, se calhar, “era pena ficar por ali”… O meu futuro era ser emigrante, como foi o de toda a gente da minha idade.
Os professores também estimularam a continuação dos seus estudos?
Os professores falavam, diziam que, se calhar, ‘era pena abandonar os estudos’… Um irmão do meu pai entrou em contacto com ele e disse-lhe: ‘olha, tu tens cá uma miúda que é muito esperta, provavelmente, seria de repensar se ela não devia estudar para tirar um curso’. Talvez que ele tenha acedido à insistência dos familiares do lado dele, não do lado da minha mãe.
De onde vem a atração/vocação pela Medicina?
Quando eu era pequena, era um bocado ‘doentinha’: acho que fazia amigdalites de repetição e algumas bronquites. Havia um doutor em Ponte da Barca, o doutor Moreira, um homem muito bonito, um rico homem de família e muito competente, que vinha a Soajo, aos sábados, fazer consultas a casa do professor Lage. Tocava três vezes o sino e dizia-se ‘chegou o doutor Moreira’. Também havia, à terça-feira, o médico da Casa do Povo, mas eu também recorria muito ao doutor Moreira, porque o meu avô não tinha dificuldades económicas.
Não sei se o doutor um dia me deu uma injeção, se seria penicilina, o certo é que, para o outro dia, continuava descalça e já andava nos regos sem febre. Nessa altura pensei: ‘quero ser como este! Quando todas as crianças estiverem doentes, a ver coisas no teto, porque me subia a febre e eu tinha alucinações […], eu gostava de ser como ele! Se fosse como ele, ia toda a gente ficar boa de um dia para o outro”. E, questionei-me, “se eu casasse com o doutor Moreira, isto ficava ainda melhor?” Isto tudo para dizer que foi uma paixão de infância e foi esta admiração que ditou o meu destino.
Curiosamente, o doutor Moreira morreu com uma embolia pulmonar, quando eu andava no quarto ano do curso de Medicina.
Foi uma novidade à época uma soajeira entrar no curso de Medicina… Qual a reação do povo de Soajo?
Ninguém acreditava! “O que é que a moça quer?”, perguntavam uns. Outros questionavam a minha mãe: “ela vai para a cidade?” e “vai casar com essa gente rica?”
E outros ainda diziam que a minha mãe, se me deixasse ir estudar, ia ficar sozinha e que eu não queria saber dela. Ironia do destino: quem deu esses conselhos à minha morreu pouco acompanhado e a minha mãe morreu na minha casa, acamada durante seis anos e sempre acompanhada por mim.
Onde é que cursou Medicina?
Porto. O Porto por ser mais perto. Tinha em Soajo a minha mãe sozinha e queria fazer as férias, sempre que podia, junto da minha mãe. Há coisas interessantíssimas de que me lembro: a quinta-feira antes da Páscoa, portanto antes da Sexta-feira Santa, a minha mãe esperava por mim para semearmos o feijão que iam dar as vagens – feijão semeado por mim dava as melhores vagens do mundo…
Fale dos primeiros tempos de universidade.
Entrei em 1970. Tinha uns colegas de Melgaço com quem me dei sempre muito bem e que usei quase como protetores. Apoiei-me neles e correu tudo muito bem.
É verdade que a Elisabete Fernandes foi a primeira mulher de Soajo a obter uma licenciatura?
Acho que fui a primeira a conseguir uma licenciatura, mas já havia mulheres mais velhas com bacharelato. Fazendo uma retrospetiva, havia homens licenciados do lado da Economia, mas não em Medicina.
O que é que os pais lhe disseram quando terminou o curso?
A minha mãe, nesse dia, não sabia muito bem o que havia de fazer: se havia de chorar ou se havia de estar muito feliz.
O que é a sua mãe esperava da filha Elisabete médica?
A minha mãe era uma perfecionista. […] Queria que tudo corresse bem e sem falhas, tanto em termos técnico-científicos como em termos humanos. Depositava muita responsabilidade em mim e queria que eu fosse útil a uma população que estava tão abandonada e que precisava de ser protegida.
Com o “canudo” na mão, notou diferença de tratamento por causa do estrato?
Não. As pessoas com quem mais convivia foram sempre de Soajo. Sempre fui muito bem tratada. A gente não me tratou melhor depois da licenciatura, mas passou a confiar mais em mim, aí, diziam, ‘já temos quem nos dê a mão’.
Nunca sentiu um certo sentimento de inveja por ter tido tanto sucesso?
Parece-me que não… Não sou capaz de invejar ninguém por ter sucesso, pelo contrário, apoio sempre os sucessos.
Onde é que fez o internato?
O primeiro ano (P1 e P2, à época) em Matosinhos, depois, como éramos obrigados a vir para a periferia, escolhi os Arcos, porque era a minha Terra. Seguidamente, por causa de circunstâncias várias (sindicatos e o tema das carreiras médicas), houve muito tempo sem abertura de vagas de especialidade.
Mas, nessa altura, já mostrei alguma liderança: havia um diretor de serviço que me pediu para tirar em Lisboa o curso de Saúde Pública para a Escola Nacional de Saúde Pública. E, portanto, eu seria a futura delegada de Saúde, e fui, durante muitos anos de Arcos de Valdevez, uma autoridade de saúde, com alguns poderes administrativos de decisão, etc..
De resto, fiz o internato de Medicina Geral e Familiar no Centro de Saúde de Arcos de Valdevez e no Hospital de Viana do Castelo.
De seguida, quando fiz exame, evidentemente que tive uma boa nota. Viana precisava de mim como médica de família e como médica de Saúde Pública, e a vaga foi para mim. Estive aí, nessas funções, durante quarenta anos.
Porque é que a componente vocacional é tão subestimada no processo?
No meu caso, não foi muito bem assim, porque tínhamos um orientador de formação que nos conhecia muito bem: ele vigiava-nos passo a passo. Mas, realmente, uma das maneiras de avaliar é com os exames técnico-científicos. Verdade que a maneira como se trata o doente não é tão bem avaliada quanto deveria ser. Aqui, falham algumas coisas, que não gostaria de abordar, mas lamento muito que aconteça.
Diga três qualidades para um profissional de saúde fazer a diferença.
Primeiro, gostar dos outros; segundo, gostar de estudar; terceiro, estar em permanente formação (é preciso estudar a vida toda, porque o que era verdade ontem, pode não ser verdade hoje…). Se isso acontecer, a pessoa é feliz, porque tudo o que fez, terá sido feito em favor dos outros.
Como é que vê o atual Sistema Nacional de Saúde?
Só vemos defeitos nele, mas, apesar de tudo, houve grandes progressos. E noutros sítios está muito pior, embora isso a mim não me contente. […] É pena que se demore tanto tempo para ter uma cirurgia ou ter uma consulta. Nas situações de urgência, ninguém morre porque falha o tratamento de um enfarte, pode morrer-se, sim, porque não houve uma consulta de cardiologia para fazer o cateterismo. Estas coisas são muito complicadas.
A sensação que se tem é que se perdeu um pouco a relação entre o médico e o doente com a informatização do sistema. Qual a sua opinião?
Perdeu-se muito essa relação… É pena que isso tenha acontecido. Primeiro: ninguém pode fazer uma consulta em condições, eu não faço, em 15 minutos. Este é quase o tempo que preciso para tirar as camisolas no inverno às idosas para medir as tensões. Depois, o placard do computador separa-me do doente: ou registo ou olho para o doente.
Com o computador, espécie de “biombo”, perdeu-se, na verdade, um pouco a relação entre mim e o doente, porque agora já não há só a minha cara e a do doente.
Antigamente, recordo-me que, pela minha maneira expressiva de falar, olhar e gesticular, o meu doente, quando eu estava a ler um relatório, já sabia se o mesmo era bom ou mau.
Atualmente, existe menos formação específica. Quem sofre mais com esta lacuna?
É um problema para a gente nova, porque nem todos têm lugar onde possam fazer uma formação e nós temos de fazer formação, porque o que está nos livros é uma coisa, mas a cara [do doente] é outra. Se vejo uma varicela, nunca mais a esquecerei. Mas tenho de estar a ver uma varicela à beira de um indivíduo que já viu a varicela e que me faça uma descrição do problema. Isso agora não dá porque não há vaga para todos os colegas fazerem formação específica.
É preciso fazer muitas reformas a nível de formação?
Sim. Apesar de termos ainda uma das melhores formações do mundo, não podemos facilitar e queremos que elas se mantenham tão boas no futuro.
É comum dizer-se que “Arcos é uma escola de médicos”. Faz sentido dizer isso?
Não parece, mas há uma escola de grandes médicos nos Arcos. E os médicos que trabalham aqui continuam a ser uma escola. Porquê? Porque uma grande parte deles é orientadora de formação, outra parte é sindicalista, outros, como eu, fazem parte da Ordem dos Médicos e, ainda, há outros que são da Associação dos Médicos de Clínica Geral. Esta mescla fortalece e responsabiliza. Quando há reuniões e temos de fazer declarações, temos de saber o que dizemos. Isso faz com que sejamos mesmo uma escola.
Quando regressa às origens recorda-se da infância? De que pormenores?
Muito… Todo o caminho por onde passo remete para o passado… Ainda hoje atravessei um caminho que se chama ‘Ferrada’ e disse à minha amiga: ‘quantas topadas dei nesta ferrada e quantas cabeças do dedo grande desapareceram?’ Porque andava descalça.
Era num muro da Casa do Povo, que agora já não existe, que eu brincava à noite com as mimosas a matar morcegos. Agora, não vejo morcegos no mesmo sítio. Eram brincadeiras de infância. Uma das colegas da minha infância era Rosa Afonso Amorim (“Albina”). Brincávamos às escondidas, e, claro, ela brincava muito melhor de noite do que de dia. Só quando é que fui para a faculdade é que percebi porque é que de noite ela me ganhava sempre e de dia era eu que ganhava: é que os albinos veem muito melhor de noite.
Recordo-me também das cantigas ao desafio com pessoas de outros lugares.
Como é que vê Soajo?
Estou um bocado fora e dentro… Há coisas que me desgostam, gostava que as coisas ‘rolassem’ mais depressa. Não sei se isto tem de ser assim ou se sou um bocado bairrista. Vivemos isolados durante muitos anos, a luz só veio para Soajo quando eu fui para a escola em 1957. E a estrada do Mezio não existia, havia a de baixo, com a ponte de varas.
Eu queria que as coisas, em comparação, andassem muito mais depressa. Isto não tem que ver só com Soajo, tem que ver com o contexto do mundo e de Portugal.
Que lições é que os agentes políticos deviam tirar entre a pobreza extrema de Soajo de há quarenta ou cinquenta anos e o mesmo território que estagnou há alguns anos a esta parte?
Que eles passaram pela pobreza como eu passei – e os que estiveram lá terão poucos mais anos que eu! Era preciso pensar assim: o que nos passámos, ninguém mais poderá passar.
E porque é que a grande maioria dos jovens não se envolve na política?
A juventude não se envolve na política porque, desculpem-me o termo, não apanhou porrada do Capitão Braga, quando entrou para a faculdade como eu apanhei. Porrada, literalmente, de bastão. Quando tínhamos aulas de Biologia nos anfiteatros da Faculdade de Medicina, quando fazíamos reivindicações por um ensino melhor, por apoios no alojamento e na alimentação, a única resposta era esta: o Capitão Braga trazia uma brigada, colocava meia dúzia à entrada e à saída, e nós, enquanto entrávamos e saíamos, apanhávamos sempre.
O que é que se poderia fazer para aproximar os jovens da coisa pública?
Se calhar, os jovens não acreditam que foi verdade eu ter apanhado [porrada]. Os meus netos sabem. Será que eu e outras pessoas como eu teríamos de mudar a nossa posição e chamá-los até nós? Provavelmente, sim! E será que nós também já estamos cansados? Já há quarenta anos que os chamámos e achámos que eles já não querem saber, e cada um agora que aprenda por si. Penso muito nisto, mas não vejo resposta certa. Uns dias vejo de uma maneira, outros de outra.
Com quem é que se pode dar a volta?
Com os mais líderes e os mais capazes. E com mais formação, tendencialmente. Desde que caiu o Muro de Berlim, desde que se desfez a União Soviética, desde que Trump ganhou, tudo é possível! Para o bem e para o mal! Em Portugal também. Não há dia em que não veja na televisão ou leia num jornal que alguém bem posicionado na vida não roube ou não esconda papéis. Como é que a juventude pode aparecer quando tem estes exemplos no dia-a-dia?
A tendência é para os jovens se "encostarem" ao poder e esperarem pela vez deles…
Todos querem estar do lado do poder. Mas nem toda a gente tem de estar com o poder, alguém vai ter de fazer a cama. O poder económico, enquanto pode, está por cima de tudo. Mas só até quando quem faz a cama não começar a fazer a cama com os lençóis ao contrário por eles não pagarem como devem.
A política, como a sociedade, é pouco racional, já se vê… E a propósito: há decisões médicas que são impulsionadas por razões emocionais?
Sim, sim… Podemos pensar na votação do aborto, em que, na primeira vez, a lei foi “chumbada” por um voto e a segunda vez ganhou. Votei a favor da lei. Nunca ninguém defendeu e fez tanto planeamento familiar como eu. Faço muitas consultas de planeamento familiar e com prazer. Nunca voto para que se tenha que abortar, porque há sempre alguns riscos mesmo dentro do hospital, claro que se for aí numa casa sem condições nenhumas o risco aumenta exponencialmente…
Eu votei para que não fosse necessário haver abortos, para que tudo ficasse esclarecido e para que não precisasse de fazer abortos, porque sabia que podia contar com o planeamento familiar.
Se fizesse o aborto em último caso, seria no sítio certo, e nunca a mulher a ir para a cadeia. O aborto e o filho não é só de um, por que razão há de ser só a mulher a ir para a cadeia?
A clínica geral é “mãe” de todas as especialidades?
É a “mãe” e a primeira. Um médico de clínica geral tem de ter noções de tudo e, acima de tudo, saber do que é capaz de fazer corretamente e fazer tudo de uma maneira preventiva e com uma atitude antecipatória.
A clínica geral abrange tudo e abrange de muito perto, quase mão a mão, ombro a ombro, e com um amor profundo. Um profissional de clínica geral tem de tocar todos os instrumentos. […] E, se a isso, conseguir orientar bem, faz muito.
Porque é que há a tendência para idolatrar um médico-cirurgião como Eduardo Barroso?
Por causa do impacto, porque as pessoas pensam que só se morre quando o coração para. Mas se a cabeça parar, é bom ter presente, também morre. Da mesma maneira que, se a cabeça não funcionar, basta um ato tresloucado, atirar-se de uma ponte por exemplo, para morrer.
As urgências ainda hoje são um desafio?
Ainda e sempre um desafio. Continuo a fazer, não no âmbito do Estado, mas a ir ver e a fazer domicílios. Vejo no meu consultório muitas situações de urgências, que consigo resolver com grande prazer.
Qual a palavra que mais gosta de ouvir dos doentes?
“Deus lhe dê o céu e a alivie como conseguiu aliviar-me”. Ouço muitas vezes isto. É muito reconfortante. Se mais não for, por hoje, já chega! Digo que todo o médico trabalha por dinheiro, mas a remuneração é secundária. E não há dinheiro que pague este sentimento de gratidão.