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Segundo a página oficial da Direção-Geral da Saúde (DGS), estavam apurados, à meia-noite desta terça-feira, 61 casos de Covid-19 em Arcos de Valdevez, mas os números revelados pela tutela estão desfasados da realidade. A informação mais detalhada que existe sobre o novo coronavírus remonta ao dia 20 de abril, com 62 casos de infeção registados no concelho desde o início do surto: 47 infetados ativos (sete dos quais internados e quarenta em isolamento profilático), seis óbitos (incluindo um soajeiro) e nove recuperados. Mas, entretanto, o número de óbitos aumentou para oito, com as duas vítimas com idade menos avançada (62 e 71 anos).
Os lares de terceira idade representam a maior parte dos óbitos, sendo a estrutura residencial para idosos do Centro Paroquial e Social de Santa Maria de Grade, de longe, a mais atingida, com cinco óbitos (todos utentes). No Lar Vilagerações, da Santa Casa da Misericórdia de Arcos de Valdevez, há um falecimento a lamentar devido ao vírus SARS-CoV-2 (novo coronavírus).
A grande concentração de pessoas, maioritariamente vulneráveis, acabou por facilitar a propagação da doença, mas muitos utentes que adoeceram nestas estruturas residenciais estão a recuperar.
“É impossível ter uma perceção da evolução da pandemia”
O presidente da Câmara Municipal mostra-se agastado com a escassez de informação acerca da evolução da pandemia no concelho por “responsabilidade do Ministério da Saúde e do delegado de Saúde Pública do distrito de Viana do Castelo”.
Em causa o facto de o boletim epidemiológico diário da delegada de Saúde de Arcos de Valdevez, por indicação do delegado distrital, ter deixado de ser emitido desde 21 de abril, pelo que o executivo e os munícipes apenas sabem da informação disponibilizada uma vez por dia, por volta da hora de almoço, na página da DGS.
Com a delegada de Saúde arcuense, Zulmira Afonso, impedida de divulgar a informação como vinha fazendo diariamente, “é impossível, nas palavras de João Manuel Esteves, ter uma perceção da evolução da pandemia no concelho”, de pouco servindo o relatório de situação da DGS, devido ao desfasamento dos dados compilados e à sua não compartimentação (informação da DGS está resumida ao total de infetados, e não faz qualquer menção ao número de infetados ativos, de internados, dos que estão em isolamento profilático, dos recuperados e dos óbitos registados por concelho).
Para o edil arcuense, “é preciso, portanto, mais informação, e informação atualizada, sobre quantos pacientes estão internados, em isolamento ou curados, porque há um atraso manifesto dos casos reportados pela página da DGS, por causa do diferimento entre a realidade local e a realidade nacional [corresponde ao tempo que demora a atualização no sistema integrado], divergência que compete ao Ministério da Saúde resolver”.
O presidente do Município nega ter acesso a outros dados que não os oficiais. “A informação que eu tenho é a da DGS, não há mais nenhuma outra, e se não há mais nenhuma informação é porque a DGS e o delegado de Saúde Pública do distrito, Luís Delgado, não a querem dar”, vincou o autarca, acrescentando que “a Câmara não interferiu nem quer interferir neste processo, […] só pedimos mais informação e mais transparência, aliás, esta é uma reclamação que muitos colegas autarcas, de vários quadrantes políticos, fazem no país”, insistiu.
Questionada sobre o desfasamento e a flutuação dos registos, a DGS atribuiu os falhanços ao número elevado de sistemas de registo da informação dos pacientes.
Prometida informação desagregada
Na reunião de âmbito distrital que juntou, no passado dia 23 de abril, CIM Alto Minho, ULSAM, delegado de Saúde Pública, diretora da Segurança Social e comandante distrital da Proteção Civil, foi reafirmado por vários autarcas o “interesse em que o delegado de Saúde distrital promovesse uma informação cabal dos pacientes infetados com Covid-19, decompondo os registos em número de internados, recuperados e óbitos”.
“O delegado de Saúde distrital subscreveu esta tomada de posição e concordou que essa informação era importante, explicando que ainda não se tinha feito por falta de disponibilidade. Prometeu que iria fazer um esforço para que a informação fosse divulgada publicamente, até para se perceber a evolução da doença”, conta João Manuel Esteves.
De referir que câmaras como Monção e Melgaço têm disponibilizado diariamente à população os dados locais da evolução da pandemia.
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Notas
Infetados com coronavírus no Alto Minho
Tendo como referência o portal da Direção-Geral da Saúde, os concelhos do Alto Minho com mais casos de infeção confirmados até 28 abril são Viana do Castelo (144 pacientes), Monção (68) e Arcos de Valdevez (61).
No polo oposto, situam-se Vila Nova de Cerveira (seis casos), Paredes de Coura (sete), Ponte da Barca (sete) e Valença (sete).
Rastreio à Covid-19 só com prescrição médica
Os testes de diagnóstico apenas são realizados mediante a apresentação da prescrição do médico de família do centro de saúde local.
Pacientes não internados considerados recuperados com um teste negativo
Os infetados com o novo coronavírus que estão em isolamento domiciliário passam a ser considerados casos recuperados se ao fim de 14 dias tiverem um único teste negativo (e não dois resultados negativos como acontecia até 27 de abril) e se já não tiverem sintomas.
Pandemia faz descurar outras doenças
A pandemia está a levar a uma diminuição significativa do acesso a cuidados de saúde relacionados com doenças que não a Covid-19. Nas diferentes unidades de saúde foram adiados exames, consultas, cirurgias e tratamentos.