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Soajo em Notícia

Este blogue pretende ser uma “janela” da Terra para o mundo. Surgiu com a motivação de dar notícias atualizadas de Soajo. Dinamizado por Rosalina Araújo e Armando Brito. Leia-o e divulgue-o.

Soajo em Notícia

Este blogue pretende ser uma “janela” da Terra para o mundo. Surgiu com a motivação de dar notícias atualizadas de Soajo. Dinamizado por Rosalina Araújo e Armando Brito. Leia-o e divulgue-o.

O número de visitantes do Parque Nacional (PN) tem vindo a crescer nos últimos anos, sendo de longe a área protegida mais procurada do país. Em 2019, visitaram o PN mais de 103 mil pessoas e, este ano, as estatísticas apontam para um número recorde de turistas. Este verão, a vila de Soajo tem sido invadida por grandes contingentes de turistas nacionais.

Apesar de o término de 2020 ainda estar à distância de quase quatro meses, a diretora regional do norte do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) adianta que o aumento considerável de visitantes desde o desconfinamento, coincidindo com o levantamento do estado de emergência por motivo da pandemia da Covid-19, se vai repercutir nas contas finais. “É visível que há uma tendência no acréscimo de visitantes nas áreas protegidas, sobretudo no PN, que, sendo o único do país, se tornou muito atrativo”, justifica Sandra Sarmento.

Os grandes aglomerados de turistas (nacionais), em busca no pós-confinamento de tranquilidade e de espaço livre no meio da natureza, têm suscitado trabalho redobrado aos vigilantes do PN. “A maior parte das visitas concentra-se nestes meses de verão e isso é um problema. O nosso grande desafio é acautelar que as regras são cumpridas e para isso contamos com os nossos vigilantes. Só que este tem sido também o período de risco para os fogos e eles passam o tempo todo a dar apoio na vigilância de incêndios, não há missões alternativas”, sublinha a responsável em declarações ao jornal Público.

O PN, primeira área protegida do país (criada em 1971), que é também Reserva da Biosfera Transfronteiriça, tem sido notícia por abusos recorrentes, como foi o caso recente da área de proteção total da Mata do Ramiscal, devido à prática de todo-o-terreno nos estradões circundantes, situação que levou o ICNF a reforçar a vigilância nesse “tesouro” de biodiversidade.

Mas os relatos de incumprimento das regras no território do PN acentuaram-se muito desde maio com os visitantes ocasionais a mostrarem grande défice de informação. “Chegam cá pessoas que desconhecem o Parque, muitas vezes estão a visitá-lo pela primeira vez e, desconhecendo, não percebem o que está aqui em causa, pelo que, inadvertidamente, o invadem em grandes concentrações. Não é maldade intencional, mas, ao não respeitarem as regras, não veem que podem fazer mal à fauna e à flora, e invadem habitats sensíveis e zonas únicas para algumas espécies”, lamenta Sandra Sarmento.

As situações anómalas mais comuns prendem-se com a “recolha de plantas”, “lixo que é deixado para trás”, “piqueniques com recurso a fogueiras (proibidas)”, “campismo selvagem”, “autocaravanas e veículos estacionados em qualquer sítio”, “caminhadas de grandes grupos sem autorização”, conta Lino Gonçalves, chefe dos vigilantes… Ao invés, quem conhece as regras sabe que há princípios básicos a ter em conta, nomeadamente não colher qualquer espécie de flora, não perturbar a fauna, não fazer lixo (e, se possível, remover os resíduos que forem encontrados), percorrer os trilhos assinalados e desfrutar da natureza sem agredir os valores naturais.

Só que para o visitante comum a experiência não se resume à fruição da paisagem, quem chega a esta área protegida arrisca quase sempre um mergulho nas lagoas rodeadas de cascatas e, neste plano, os poços de água cristalina, em Soajo, estão entre os favoritos. Mas nos desfiladeiros “é preciso que haja sensatez, é […] desaconselhada a prática de banhos nas cascatas”, avisa Duarte Figueiredo, diretor do Departamento de Conservação e Biodiversidade do Norte do ICNF.

O estio de 2020 indica que o público jovem que frequenta as lagoas “aninhadas” nos rochedos não liga muito às recomendações e visita esta área protegida como se fosse a uma praia da orla marítima. “[…] As cascatas não são zonas balneares nem de banhos. Elas existem no PN e são usadas, não há nada a interditar o seu uso, o que acontece é que são usos inadequados. As pessoas andam em cima das rochas, o que é muito perigoso, trazem crianças e calçado que não é adequado. Vêm para aqui como [vão] para a praia, não para o Parque Nacional”, critica Sandra Sarmento.

Restrições nas zonas de proteção total

Os condicionalismos, ignorados por muitos, são lembrados a cada instante pelos vigilantes e constam das brochuras informativas. Nas áreas de proteção total, o acesso é restrito, só possível mediante autorização e em determinadas condições – na área de proteção parcial, tipo I, os passeios a pé só podem ser realizados (sem autorização) por grupos com menos de dez pessoas. Mas, além disso, há zonas de proteção total onde o acesso é completamente vedado para salvaguardar a “continuidade dos valores existentes”, lê-se num dos panfletos do ICNF, em referência, a título de exemplo, à Mata do Ramiscal.

É nos vales de orografia acidentada com vistas panorâmicas que se encontram turfeiras e bosques ripícolas; matas (tojais, urzais…) e rios; plantas como o freixo, o azevinho, o medronheiro e o pinheiro-silvestre, bem como uma grande diversidade de fauna, que tem no corço, no lobo-ibérico, na cabra-montês e nos garranos os seus maiores símbolos. E é também neste “refúgio” natural que existe um valioso património cultural e arquitetónico, entre mosteiros, pelourinhos, espigueiros, castelos, moinhos e barragens.

Mais de 1 milhão de visitantes desde 1996

O PN, maravilha natural que se prolonga por quase 70 mil hectares, atravessando as serras de Soajo, Amarela e Gerês, recebeu 1 262 000 visitantes entre 1996 e 2019, segundo os dados oficiais recentemente divulgados.

Como em anos anteriores, o Município vai oferecer os cadernos de fichas aos alunos do 1.º e 2.º ciclos – com escalão A e B – matriculados nas várias unidades do Agrupamento de Escolas de Valdevez (AEV) em 2020/2021, incluindo a Escola Básica da Eira do Penedo, em Soajo. Os restantes estudantes, mediante voucher a descontar em papelarias/livrarias locais, vão ter um desconto de 50% no valor de aquisição dos cadernos de apoio referentes às disciplinas que integram o plano curricular nos dois ciclos iniciais. No total, a medida acarreta um investimento municipal máximo de 30 mil euros.

“A proposta vai no sentido de atribuir aos alunos desfavorecidos economicamente do 1.º e 2.º ciclos o valor de 100% do respetivo custo dos livros de fichas, enquanto os alunos sem apoio dos Serviços de Ação Social Escolar (SASE), terão direito a uma contribuição de 50% do valor de aquisição dos livros”, diz a vereadora da Educação.

A proposta do Executivo, que foi aprovada em reunião camarária no passado dia 14 de agosto, financia as fichas pelo valor real de mercado (conforme os preços tabeladas pelo Ministério). “Este dossiê já foi abordado com o Agrupamento de Escolas de Valdevez (AEV), a Associação de Pais e Encarregados de Educação do AEV e as livrarias, tendo ficado estabelecido que os meninos com 100% de apoio receberão os livros de fichas na escola, já os demais podem levantar nas livrarias locais os livros com 50% do custo”, acrescenta Emília Cerdeira.

Por seu lado, o edil João Manuel Esteves sublinha que “esta medida visa aliviar o esforço financeiro das famílias no arranque do novo ano letivo”, que começa entre 14 e 17 de setembro.

Integrada na política socioeducativa, a decisão da Câmara é paralela à de muitas outras edilidades, mas existem municípios, como o de Lisboa, que estão a oferecer, de igual modo, os manuais do 3.º ciclo e do secundário, sendo que o Ministério da Educação passou a oferecer os manuais a todos os alunos do primeiro ciclo desde o ano letivo 2017/2018.

Globalmente, a gratuitidade dos manuais e das fichas na rede pública encerra um apoio substancial e significa uma poupança de centenas de euros para cada agregado familiar. Não entram neste cálculo os recursos didáticos (dicionários, prontuários, gramáticas…) e os materiais audiovisuais/multimédia (CD e DVD), que, em caso de necessidade pedagógica, terão de ser adquiridos pelas famílias.

Voltando aos manuais, começou no dia 13 de agosto a distribuição, pelo Governo, dos vouchers para aquisição dos manuais escolares para os alunos de início de ciclo – 1.º, 5.º, 7.º e 10.º anos. “Só para estes quatro anos de escolaridade, no primeiro dia, já foram disponibilizados mais de 700 mil vouchers”, anunciou o Ministério da Educação.

Os “vales” para os restantes anos foram entregues antes, ao todo foram distribuídos cerca de 5 milhões de direitos.

A Adega Cooperativa de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez (ACPBAV) estima que a “produção de vinho este ano será igual à de 2019, quer em quantidade quer em qualidade”. O enólogo da Adega diz que o ano vinícola de 2020 “só não é melhor devido à queda de granizo, com estragos de monta, na zona norte, em finais de maio”.

No início do ciclo, o potencial “era muito maior” e, nas “vinhas modernas, a estimativa apontava para o dobro da produção”, mas a instabilidade meteorológica, entre abril e junho, com “períodos regulares de chuva, reduziu a rentabilidade da vinha, sobretudo em produtores menos profissionais”, e “favoreceu o aparecimento de doenças”, obrigando à “realização de tratamentos fitossanitários”, explica ao blogue Soajo em Notícia João Pereira, acrescentando que, nessa fase, “houve registos de ataques de míldio”.

A estas condições adversas juntou-se o “fenómeno climatérico extremo da queda de granizo (no passado dia 31 de maio), que provocou a perda de 80 a 90% da produção em Sabadim, Aboim das Choças, Vilela e Álvora, onde o temporal arrasou explorações vinícolas numa área equivalente a dez hectares”. Sem desdramatizar (os produtores de vinho verde estão abrangidos por um seguro de colheitas), João Pereira assinala, ainda, que “as elevadas temperaturas que se fizeram sentir depois, entre o final de julho e o início de agosto, provocaram, por seu lado, o fenómeno de ‘escaldão’ (desidratação das vinhas por excesso de calor) com quebras ligeiras, de 5 a 10%, em situações pontuais”.

Independentemente dos episódios anómalos verificados, “há plena confiança” na próxima campanha. “Após longo período seco, a chuva que está a cair, se for moderada, pode melhorar a quantidade e a qualidade na fase de maturação”.

Entretanto, depois de analisados os parâmetros técnicos, a partir de amostragens representativas, a ACPBAV decidiu arrancar a vindima com a apanha da uva branca a 14 de setembro (e até 26 do mesmo mês), enquanto a campanha das castas tintas decorre de 18 a 26 do próximo mês. 

Mão-de-obra para a vindima

A Adega está a recrutar pessoal para receção e processamento da uva nas suas instalações. O procedimento inclui o obrigatório seguro de acidentes de trabalho.

As inscrições podem ser feitas na Adega ou via email até ao próximo dia 4 de setembro.

Medidas sanitárias

No contexto da crise pandémica, o plano de contingência da ACPBAV, em respeito pelas diretrizes da Direção-Geral da Saúde, estabelece um conjunto de medidas para garantir as condições necessárias à proteção da saúde de colaboradores e associados, com o objetivo de salvaguardar a atividade empresarial da Adega.

Assim, o guia determina, entre outras normas, que os vindimadores cumpram a distância de segurança (1,5 m no mínimo) e as instruções relativas à lavagem higiénica das mãos com álcool-gel. Quanto à operação de entrega da uva na Adega, existem determinações rigorosas para que o fornecedor use máscara, permaneça no veículo enquanto aguarda a descarga, não circule nas instalações e evite o contacto físico com colaboradores da ACPBAV.

Após o processamento da uva, o colaborador da Adega entrega ao produtor um talão com os indicadores relativos à qualidade e quantidade do produto.

Foto | RR

As freguesias não são todas iguais e, segundo o mapa de transferências da Administração Central, a Junta de Soajo, no conjunto das freguesias “isoladas”, é mesmo a “campeã” de receitas no concelho.

As verbas atribuídas pelo Estado dependem de fatores como a contribuição das freguesias nos impostos do Estado, a população residente ou a área da freguesia. Por isso é que há juntas que recebem mais financiamento do que outras. E também há realidades diferentes que não são tidas em consideração nas contas, desde logo existem juntas de freguesia com funcionários e outros sem trabalhadores contratados. 

De acordo com o mapa disponível no portal da Direção-Geral do Orçamento, entre as jurisdições inalteradas desde a reorganização administrativa de 2013, as que recebem “envelopes” financeiros mais generosos são Soajo (58 747 euros), Gavieira (52 124 euros) e Gondoriz (47 738 euros), enquanto, entre as 13 agregações nascidas com a reforma, aquelas que são contempladas com mais dinheiro são as uniões de Arcos de Valdevez (Salvador), Vila Fonche e Parada; Vilela, São Cosme e São Damião e Sá; e Arcos de Valdevez (São Paio) e Giela.

Juntas com mais competências em 2021

As juntas vão ser realidades diferentes em 2021 por motivo da anunciada (e obrigatória) delegação legal de competências dos municípios, mas os autarcas locais querem recursos à medida, mediante acordo de execução entre as freguesias e as câmaras para que essas competências possam ser, efetivamente, exercidas pelas freguesias.

O próximo ano assinalará o crescimento do número de competências que serão atribuídas aos órgãos locais (incluindo Soajo) – por exemplo, a competência da limpeza da rede viária municipal ou a manutenção e atualização o cadastro dos bens móveis e imóveis da freguesia –, sem que se saiba ao certo se as verbas a transferir vão corresponder às novas funções.

 ***

Freguesias “isoladas” que recebem mais dinheiro do OE (em 2020)

. Soajo | 58 747 euros

. Gavieira | 52 124 euros

. Gondoriz | 47 738 euros

 

Freguesias agregadas que arrecadam mais dinheiro do OE (em 2020)

. Arcos de Valdevez (Salvador), Vila Fonche e Parada | 73 041 euros

. Vilela, São Cosme e São Damião e Sá | 65 668 euros

. Arcos de Valdevez (São Paio) e Giela | 50 271 euros

O Município adjudicou à empresa Dstelecom a execução do projeto relativo à expansão da rede de fibra ótica em Soajo.

A iniciativa, que se estenderá da sede do concelho à vila soajeira, está orçada em cerca de 60 mil euros (valor sem IVA).

Em condições normais estariam a decorrer agora as festas da Vila de Soajo, mas, devido aos condicionalismos impostos pela Covid-19, as celebrações foram canceladas em 2020, ficando as tradicionais festividades reduzidas à missa solene de sábado, Feriado Nacional de Assunção de Nossa Senhora.

“Em respeito pelas regras sanitárias da Direção-Geral da Saúde, será celebrada apenas a eucaristia no dia 15 de agosto, pelas 11.45”, disse ao blogue Soajo em Notícia o pároco Custódio Branco, adiantando que, em face das enchentes verificadas na localidade este verão, mais se torna obrigatório o cumprimento da distância de segurança, condição que remeterá a grande maioria dos fiéis para o exterior da igreja de S. Martinho.

Em sintonia com o pároco, a comissão que estava incumbida de organizar as festas de 2020 já tinha anunciado, em maio último, o que havia sido decidido para este verão:

“[…] Devido aos graves riscos de propagação da pandemia, […] não poderemos realizar as festas que vínhamos a planear para este ano de 2020. […] Acordámos entre todos que, se possível, e voltamos a referir, se possível, estaremos à disposição para organizar as celebrações religiosas (exceto as procissões, por estarem proibidas) e alegrar estes dias, sempre de acordo com as restrições e condições de segurança impostas. Mesmo com todos os imprevistos, o nosso compromisso mantém-se firme e, por isso, estaremos prontos e motivados para realizar, salvaguardas todas as condições, as festas de Soajo no próximo ano”, lê-se no comunicado colocado a circular, há meses, nas redes sociais pela comissão, constituída pelos jovens Fábio Alves, Frederico Oliveira, Ivo Baptista, Manuel Casanova e Tiago Brito.

Fotos | Arquivo

Foi aprovada, pela Câmara, a abertura de procedimento concursal com vista ao início dos trabalhos de construção para o futuro Centro de BTT, em Soajo, cuja obra inclui alteração e ampliação do edifício das instalações sanitárias no Campo da Feira. Está dada, assim, a primeira “pedalada” para que os cicloturistas tornem a serra de Soajo e os trilhos que circundam os vales um circuito “amigo” da bicicleta.

Com o intuito de melhorar a experiência de visitação no “coração” do Parque Nacional, sem agredir o seu rico património natural e cultural, a instalação desta oferta turística na vila de Soajo será mesmo uma realidade no âmbito da iniciativa que visa fomentar práticas de cicloturismo na referida área protegida.

A infraestrutura para dar apoio à atividade cicloturística, além das casas de banho, será dotada de equipamentos de lavagem de bicicletas, ponto de lavagem e secagem de roupa dos ciclistas, estação de reparação e zona de estacionamento. 

O Município vai investir cerca de 40 mil euros (valor base a concurso) no projeto, que tem um prazo de execução de noventa dias.

De volta em julho passado a Soajo, onde passou muitos verões na adolescência, o presidente da Associação de Bloggers de Viagem Portugueses ficou ainda mais rendido à terra que sugere como destino de férias para descobrir “pessoas maravilhosas”, trilhos pedestres, miradouros com “vistas deslumbrantes”, lagoas de “água gelada” e paisagens “inspiradoras”.

Em entrevista ao programa “Eu fico em Portugal”, da Antena 1, Filipe Morato Gomes justifica a escolha. “Durante alguns dias, andei a explorar a região de Soajo com calma e com tempo, foi um redescobrir, um voltar a lugares que me eram familiares. Este regresso à adolescência significou o reviver de antigos verões passados a acampar no Parque Nacional, a tomar banho nas lagoas de águas geladas, a ir à padaria de Soajo todas as manhãs comprar pão, enfim, para mim, foi uma redescoberta de uma localidade aonde já não ia há cerca de 15 anos”, conta.

Apesar dos fortes índices de interioridade que fustigam o território há anos, o conhecido blogger de viagens ficou surpreendido com o pulsar e o dinamismo que “puxam” por Soajo. “Mudou muito… Aquilo que mais me chamou a atenção foi o facto de eu sentir muita vida, é uma ‘aldeia’ com muita gente, não só velhos como também jovens, indivíduos novos com dinamismo e com projetos. Eu não estava à espera de ver uma ‘aldeia’ tão dinâmica”, elogia.

Mas os pequenos “nadas” do dia-a-dia, que combinam tradição e autenticidade, são incontornáveis no bloco de notas de Filipe Morato Gomes. “Assisti a coisas tão simples como acordar de manhã na minha pequena casa de turismo rural e ouvir a Dona Teresa Júlia, uma ‘jovem’ de oitenta e tal anos, a cantar sozinha (em verso) com toda a naturalidade enquanto trabalhava de enxada na mão, estando eu discreto na janela do alojamento a ouvir. Neste aspeto, Soajo não mudou muito, a alma da localidade continua a ser a sua gente e a maravilhosa Dona Teresa Júlia revela a autenticidade do lugar”.

Porta de entrada do Parque Nacional, o Mezio convida a um roteiro com vários caminhos para “desbravar Soajo (e não só)”. “Descobri alguns miradouros que não conhecia, fiz trilhos pedestres à volta de Soajo, na companhia de Manuel Lage, um habitante de Soajo que teve a amabilidade de me levar por caminhos que eu não conhecia, revisitei Lindoso, voltei às lagoas da Travanca onde percebi que construíram uns passadiços que não havia na altura da minha adolescência, aligeirando a dificuldade do caminho, isto quando as minhas memórias me levavam mais a andar por entre fetos e sanguessugas até chegar às lagoas geladas”.

As sugestões são muitas, mas para um viajante desprevenido que chegue a Soajo sem nada previsto como roteiro, imperdível mesmo é “visitar, por exemplo, o miradouro Meandros do Lima, em Cunhas, com uma vista absolutamente extraordinária para uma curva do rio Lima, fazendo lembrar, com as devidas aspas, o Horsebend Shoe [referência à curva do rio Colorado, no Arizona, Estados Unidos], ou descobrir a terra pelas pessoas que a habitam, porque são elas que fazem a riqueza deste lugar (e de todos os lugares)”, nota Filipe Morato Gomes, fundador do blogue Alma de Viajante.

Fotos: Blogue Alma de Viajante

De 3 a 7 de agosto, foram realizadas sondagens arqueológicas no recém-descoberto acampamento militar romano localizado no Alto da Pedrada (serra de Soajo). Os trabalhos, com a ajuda dos meios tecnológicos, revelaram uma estrutura “muito bem conservada”, remontando, tudo indica, ao final do século I a.C., no contexto das campanhas de Augusto.

Ainda vai demorar algum tempo a processar as amostras, mas, segundo a equipa liderada pelo arqueólogo João Fonte, esta campanha “cirúrgica” confirmou arqueologicamente que “estamos na presença de um acampamento militar romano, o primeiro do tipo identificado no norte de Portugal”. O recinto do acampamento, situado no topo do Alto da Pedrada, “não se corresponde, portanto, nem com o fojo nem com a ‘pedra britada’ que se encontra na subida” rumo à cumeada da serra.

As sondagens, que emparceiraram a maior empresa de arqueologia em Portugal (Era-Arqueologia), incluíram “prospeções geofísicas (com magnetómetro e detetor de metais) e escavações arqueológicas”, tendo mobilizado uma equipa de profissionais com conhecimento e experiência complementares.

Génese do trabalho

O projeto de investigação de João Fonte germinou em 2018. “A CIM Alto Minho fez um varrimento laser aéreo que cobriu o distrito de Viana do Castelo. Quando tomei conhecimento dessa operação, solicitei os dados para investigação”, disse ao blogue Soajo em Notícia o estudioso, que liderou os trabalhos arqueológicos integrados no âmbito do projeto Marie Curie, financiado pela Comissão Europeia.

Com especialização na deteção remota aplicada à arqueologia, João Fonte processou os dados fornecidos pela CIM Alto Minho e, especificamente no Alto da Pedrada, identificou, através da tecnologia, “um recinto retangular com forma de uma carta de jogar, com linhas retas, cantos arredondados e com as típicas entradas em clavícula, que só aparecem neste tipo de sítios”.

O momento seguinte consistiu numa visita de campo. “Com os colegas da Universidade de Santiago de Compostela, fui ao terreno para verificar a muralha e as entradas, o sítio era claríssimo, tratava-se de um acampamento militar romano”.

Proposta de campanha arqueológica

Com estas evidências em cima da mesa, João Fonte propôs à Câmara de Arcos de Valdevez a realização de uma campanha arqueológica tendo por base um projeto de investigação pessoal.

“Eu queria investigar a presença militar no noroeste peninsular e o Alto da Pedrada era o primeiro sítio que apontava no sentido de ser um acampamento romano. Expliquei aos responsáveis da Câmara in situ a estrutura, o projeto que eu pretendia fazer e, em conjunto, decidimos agendar, para o verão de 2020, uma campanha arqueológica, com o objetivo de validar e datar arqueologicamente o acampamento militar romano”, adianta Fonte.

O que a campanha evidenciou

As sondagens efetuadas no início de agosto permitiram documentar “com grande certeza” a estrutura do sítio, bem como a sua construção. “Estamos 100% seguros de que é um acampamento militar romano, as estruturas são claríssimas. Fizemos uma sondagem perpendicular à muralha e conseguimos documentar a estrutura da muralha com cerca de 1 metro de largura. É construída com pedra granítica local, cortada, colocada a seco, elevada – não sabemos a elevação que teria à época, neste momento, tem cerca de meio metro, podia ter entre 1 e 2 metros – e, possivelmente, completada com uma paliçada em madeira”, conta o investigador.

Os trabalhos, com o contributo de um drone, permitiram outras evidências arqueológicas, caso das portas de entrada originais, “inclusive uma das clavículas da porta principal foi limpa por nós”.

Grau de preservação e paralelismo

Localizado a 1416 metros de altitude, o reduto militar romano do Alto da Pedrada encontra-se muito bem preservado. “A condição de isolamento ajudou à conservação da estrutura. Obviamente que as zonas de montanha não são zonas selvagens, têm uma ocupação antrópica, mas não é o mesmo que uma cidade. Apesar de serem difíceis de se ver, as estruturas estão muito bem conservadas”, sublinha João Fonte.

Por outro lado, foram feitas datações absolutas, tendo por base a “luminescência, que permitiram datar os sedimentos e o último momento em que os grãos de quartzo estiveram expostos à luz solar. A nossa hipótese mais forte aponta para o século I a.C., coincidindo com as campanhas militares de Augusto”, contextualiza o estudioso.

Para João Fonte, há até um paralelismo com o “acampamento romano de Penedo dos Lobos (serra de Manzaneda, em Ourense), datado também de finais do século I a.C. (década de vinte), quase irmão gémeo do recinto do Alto da Pedrada”.

Contingente e cultura material

Conforme experiência prática noutros sítios sondados, “revelou-se bastante escassa” a cultura material neste acampamento militar, que “foi ocupado, durante curto espaço de tempo, por um contingente de mil soldados no máximo”.

“Recuperámos alguns elementos, ainda não estamos certos se são antigos ou se podem corresponder a uma ocupação de pastores, que, eventualmente, andaram por ali e foram perdendo objetos. […] Basicamente o que estamos a recuperar são coisas que os soldados podem ter deixado ou que se podem ter estragado. Agora, temos de limpar, restaurar e analisar os objetos para ver se eles estão associados à cultura material antiga”.

Estrutura da muralha é “modelar”

Embora “pobre” a nível de cultura material, “o sítio evidencia uma estrutura defensiva de muralha que é modelar, obviamente adaptada à topografia e recursos geológicos locais”. Neste sentido, o recinto do Alto da Pedrada, “por ser um exemplar perfeito desse tipo de muralha, devia, no futuro, figurar nos manuais de História romana da Península Ibérica”, preconiza o arqueólogo.

Papel da tecnologia

Os meios tecnológicos tiveram “papel determinante” na descoberta da fortificação no Alto da Pedrada. “Primeiro, permitiram-nos a identificação do sítio. Sem eles, nomeadamente o varrimento laser aéreo, quase de certeza que não teríamos identificado o local. Em segundo lugar, visto que não podemos escavar integralmente o sítio, estes recursos permitem-nos testar metodologias para revelar evidências arqueológicas – de forma não invasiva, conseguimos mapear o sítio e as estruturas”.

Além do mapeamento geofísico para “deteção de anomalias magnéticas enterradas”, a tecnologia ajudou a “identificar uma segunda linha de muralha parcial, com a função de reforçar a posição defensiva na zona do sítio mais exposta”.

Fotos de campo | João Fonte e Era-Arqueologia

Com raízes em Soajo, por via paterna, Ana Paula Gomes cresceu numa família de acolhimento em Salem (Massachusetts) e foi o primeiro elemento da sua família a seguir formação superior, conseguindo um dos mais altos diplomas na área de Enfermagem (Doctor of Nursing Practice), obtido no prestigiado Massachusetts General Hospital Institute of Health Professions.

Aos oito anos, com a irmã gémea, Ana Paula Gomes foi entregue a uma família de acolhimento. “Foi uma infância muito diferente daquela que tem a maior parte das crianças naquela idade. Por isso sabia que ia para Medicina para marcar a diferença. Estava determinada a dar também os cuidados e o apoio emocional que recebi enquanto passei por aquele processo. Queria ajudar pessoas com problemas de saúde mental, especialmente crianças. Hoje é precisamente o que faço num dos meus dois empregos a tempo inteiro, trabalho com pacientes de todas as idades com distúrbios mentais e dependência de drogas, no Boston Neurobehavioral Associates, em Waltham (Massachusets)”.

Em entrevista ao jornal LusoAmericano, a jovem enfermeira e profissional de saúde mental recorda o ambiente bem português desde a sua meninice. “Tanto é que ainda faço parte do Rancho Folclórico de Peabody (Boston), onde já estou desde criança”, conta. Também é voluntária na Sociedade do DES de Peabody, participa em bailes de carnaval comunitários e socorre-se do português quando cuida de doentes com “barreiras linguísticas”.

Na altura em que rebentou a crise da Covid-19, as autoridades de saúde em Boston transformaram o Centro de Convenções em hospital de campanha com mil camas e Ana Paula Gomes seguiu, uma vez mais, o caminho do voluntariado. “Eu já estava desde março a prestar cuidados de saúde como voluntária enquadrada nos Medical Reserve Corps em vários hospitais de Boston com doentes afetados pela Covid-19. […] Quando me ofereceram a oportunidade de me associar ao ‘Boston Hope’, que acolhe e cuida de moradores de rua com Covid-19 dependentes de ajudas públicas, não pensei duas vezes. Nem nunca tive dúvidas de que era aqui que queria estar”.

Apesar de acumular no currículo várias missões médicas como voluntária, quer nos Estados Unidos quer em África, a experiência no ‘Boston Hope’ revelou-se diferente de tudo o que já experienciou. “[Fazer turnos de 12 horas à noite], tem-me tornado certamente uma pessoa mais humilde”, assegura.

Nas palavras da jovem de 27 anos, “o ‘Boston Hope’ obedece a um modelo de medicina que se aplica à resposta a situações de desastre e emergência. É um clima muito diferente daquele que se respira num hospital tradicional. O equipamento de proteção pessoal, por exemplo, é obrigatório, uma vez que todos os pacientes têm Covid-19”.

Para Ana Paula Gomes, a pandemia provoca “ataques de ansiedade, assim como tendências suicidas […], sendo que os doentes têm receio de sair de casa, até para ir buscar os medicamentos à farmácia”.

Para se poder atuar eficazmente no campo da saúde mental, “é necessário gostar-se do que se faz, porque não é fácil. Ouvir as experiências de vida destas pessoas pode traumatizar […], mas, nesta altura, tem sido muito desafiador trabalhar nesta área da medicina”, conclui.

Fonte de informação e fotos | Jornal LusoAmericano