O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) anunciou, no passado dia 20 de janeiro, o investimento de 534 600 euros nas matas do Mezio e do Ramiscal, em “ações de plantação de espécies autóctones, gestão de combustíveis, proteção das áreas plantadas, aproveitamento da regeneração natural, plantação de bosquetes e reprodução em viveiro florestal de espécies autóctones” com incidência no território do único Parque Nacional (PN). A iniciativa resulta da reprogramação de uma candidatura financiada pelo Programa Operacional de Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos, sendo que o horizonte temporal de financiamento se prolonga até 2022/2023.
“Com este investimento pretende-se dar continuidade às intervenções já realizadas pelo ICNF e promover a reprodução ex-situ [reprodução em viveiro] de espécies da flora vascular endémica do PN, de forma a operacionalizar as indicações de gestão destas espécies prescritas na lista vermelha da flora vascular de Portugal Continental e a melhorar o estado de conservação de habitats naturais”, diz a entidade promotora, que tem a missão de conservar e valorizar os recursos florestais, bem como de salvaguardar a biodiversidade.
Ao abrigo deste projeto está prevista a reprodução em viveiro de espécies como o azevinho, a sorveira-branca e as populações endémicas de pinheiro-silvestre. Para a sua efetiva execução foi escolhido o viveiro florestal do ICNF em Amarante, onde se procederá ao “desenvolvimento de uma estratégia de reprodução ex-situ das espécies referidas, atendendo à grande experiência técnica dos colaboradores que lá exercem funções”, além da garantia de “sustentabilidade do projeto para o futuro, pois esta estrutura manter-se-á a funcionar para além do horizonte do atual financiamento”, explica o Instituto.
Na fundamentação técnica do ICNF, é referido que a iniciativa engloba o “restauro da área florestal ardida com utilização essencialmente de espécies autóctones para constituição de uma floresta natural, mista, onde predominarão as espécies folhosas autóctones”. Complementarmente, será dada “especial atenção à renaturalização de zonas florestais degradadas e à proteção e salvaguarda das plantações e da regeneração natural, com recurso a vedações promovendo um melhor ordenamento do pastoreio”, em resposta a um assunto de melindre como é o de conciliar a recuperação do ecossistema com a atividade agropecuária.
Como está sublinhado na candidatura de reprogramação, a Mata do Mezio “corresponde a uma área de baldio, originalmente composta por floresta plantada de carvalhos, vidoeiros e pinheiro-bravo, entre outras espécies, atualmente reduzida significativamente pelos incêndios. Os potenciais climácicos [elementos da vegetação primitiva] e habitats predominantes da mata são carvalhais de carvalho-alvarinho, de carvalho-negral e de sobreiral com uma comunidade faunística de elevada riqueza específica e diversidade de espécies ameaçadas e prioritárias”.
Acrescenta-se na nota justificativa que “a reprogramação pretendida na Mata do Mezio visa atualizar e dar resposta à alteração de alguns dos pressupostos que presidiram à preparação da candidatura aprovada, designadamente ao nível das componentes, indicadores, localização da intervenção montantes de despesa envolvidos e calendarização”.
Atraso na execução do Projeto 1 da Mata do Mezio
Em concreto, em relação ao restauro da Mata do Mezio pretende-se promover a sustentabilidade das operações dirigidas ainda ao Projeto 1, ação adstrita à área de intervenção específica inscrita no Plano de Ordenamento do Parque Nacional, degradada pelos impactos severos decorrentes dos incêndios ocorridos neste ecossistema.
A reduzida execução financeira até agora realizada na Mata do Mezio deve-se, segundo o ICNF, à “incapacidade técnica em obra demonstrada pela empresa adjudicatária das intervenções previstas para o Mezio, o que culminou com o abandono da empreitada por parte da mesma e acarretou que não se executasse a componente relativa à Mata do Mezio”. Depois do percalço, o Instituto considera, por fim, estarem “reunidas as condições necessárias ao sucesso desta componente da intervenção”.
Já a reprogramação prevista para a Mata do Ramiscal visa “privilegiar as operações direcionadas ao Projeto 2”, que diz respeito à “recuperação de habitats do Ramiscal”, cuja mata se situa no extremo oeste do Parque Nacional (serra de Soajo), tendo estatuto de Zona de Proteção Total, de acordo com o seu Plano de Ordenamento, devido aos “valores naturais e biológicos aí existentes e ao elevado valor em termos de conservação da natureza”.
Incêndios devastadores
As ações de recuperação e de prevenção aos incêndios, desenhadas para as matas do Mezio e do Ramiscal, são, segundo o ICNF, “fundamentais para a recuperação e salvaguarda dos habitas naturais prioritários”, fortemente fustigados pelos incêndios na serra de Soajo.
A Mata do Mezio foi afetada, em menos de 15 anos (2006, 2010 e 2016), por três grandes incêndios, que originaram uma “acelerada degradação das formações vegetais e dos solos, perdendo ela própria a capacidade de se regenerar naturalmente”.
Já a Mata do Ramiscal foi atravessada por dois grandes incêndios em 2006 e 2016, que destruíram severamente vários dos habitats existentes neste “santuário” de biodiversidade, com maior incidência nos exemplares de azevinho e carvalho.