Sapador florestal até há cerca de dois anos e meio, o soajeiro Tiago Brito decidiu dedicar-se a tempo inteiro à apicultura com o objetivo de fazer desta atividade a sua fonte de rendimento. É graças a agronegócios como este que Soajo ainda segura alguns jovens, atenuando um pouco o êxodo rural.
Tiago já detinha algumas colmeias quando era sapador, mas a sua reconversão profissional deu-se com uma formação (de cinquenta horas) promovida pela ADERE. “Desde aí nasceu o gosto pela produção de mel. Por isso, de lá para cá, já tive mais duzentas horas de formação na área apícola e a minha ideia é fazer do mel o meu projeto de vida”, começa por dizer este produtor de 25 anos, que, além de gerir a empresa Dolce Gaio, também se dedica ao alojamento local.
“Invisto muito na qualidade e na pureza do mel”
De fato de proteção posto, e fruto de um investimento de “40-45 mil euros”, Tiago Brito possui cerca de 150 colmeias, distribuídas por quatro apiários na serra de Soajo, incluindo um de 25 colmeias na Gavieira. “A nossa serra oferece as condições ideais à produção de mel, pois nela há em boa quantidade pólen (embora mais tardio agora), água e néctar”, refere o produtor, que, na primeira cresta (colheita), tirou “cerca de 80 kg de mel, sobretudo de urze”.
Mas ser apicultor implica conhecimento e um trabalho incessante de vigilância dos apiários. “O produtor tem de gerir as colónias e avaliar se estas têm alimento suficiente para o inverno, estação do ano em que se faz muito trabalho de armazém (reparação e preparação de material) e em que há um pico de procura do produto. No resto do ano, a partir da primavera, há um maneio diário, entre desdobramentos, captura de enxames, renovação de rainhas e cresta”, conta Tiago.
Num setor altamente competitivo, a apicultura é cada vez mais profissionalizada. “Em primeiro lugar, é importante ter formação especializada para trabalhar na área, porque esta atividade exige capacidade técnica e maneio a fazer”, atalha Tiago Brito, querendo dizer que um apicultor profissional tem de compreender a “biologia da abelha” e interpretar o “meio em que a colónia está inserida”.
Os conhecimentos teóricos são “importantes”, mas as muitas horas de prática é que fazem a diferença. “Quem tem muita experiência no terreno conhece as técnicas para respeitar as abelhas e a respetiva colónia, deixando-as trabalhar naturalmente e mantendo os apiários saudáveis”, acrescenta Tiago Brito.
Este ano, a produção de mel está muito aquém das melhores expetativas. “Num bom ano, com as 150 colmeias que tenho, devia tirar 2500 kg, mas em 2021 a produção não deverá ir além dos 700 kg”, estima Tiago Brito, que faz repercutir no fraco rendimento os “efeitos nefastos da vespa-asiática, das alterações climáticas e da floração tardia, como se tem notado em Adrão com a flor de urze”.
Mas, de um modo geral, o maior impacto provém dos estragos devastadores provocados pela vespa velutina. “Uma grande colónia desta invasora pode destruir um apiário em pouco tempo, basta um dia”, alerta Tiago Brito, que instalou harpas elétricas nos apiários para eliminar as vespas-asiáticas e, ao mesmo tempo, salvar as abelhas. “Porque, se não houver abelhas, o mundo acaba”, avisa o produtor, para quem as abelhas “têm de ser protegidas, pois sem elas não há polinização, nem mel (e seus derivados), nem fruta, nem flores para perfumes…”
Para aumentar a rentabilidade da atividade apícola, Tiago Brito já lançou produtos derivados de mel, nomeadamente “rebuçados de mel”, e em fase de projeto está a criação de uma “parceria com uma empresa local de animação turística [Soajo Nomadis]” para “aliar os trilhos à cultura de produção de mel”, com o objetivo de dar a conhecer aos turistas o “inseto fabuloso que é a abelha, como se de um apiário pedagógico se tratasse”, explica.
Passo a passo, Tiago Brito gostaria de ver fundada uma associação de produtores para atestar o mel de qualidade da região. “Falta-nos criar uma entidade que represente os apicultores do Alto Minho, só assim poderemos certificar o mel do nosso território, que não é igual ao de outras regiões”, sublinha este apicultor de Soajo, que diz “preferir a produção em qualidade à produção em quantidade”. “Eu invisto muito na qualidade, muitos clientes dizem-me que o mel Dolce Gaio é um produto ‘diferenciado’ pela qualidade e pureza, por isso é que é um mel cristalizado”, reforça.
Para lá de controlar o processo produtivo e o design (frasco e rótulo), Tiago Brito faz ainda a promoção do produto nos meios digitais e a sua distribuição por estabelecimentos de Soajo (incluindo casas de turismo) e da sede do concelho. E, para chegar a mais público, encontra-se em fase de criação um “website por empresa especializada”.
Uma vez ultrapassada a fase mais crítica do projeto, a do seu lançamento, que Tiago Brito venceu, agora o maior desafio é “pôr diariamente à prova o negócio”, “aprendendo com os melhores técnicos” e “participando em todas as ações de formação que surgirem”, com os olhos sempre postos na “inovação” e na “diferenciação”.