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Soajo em Notícia

Este blogue pretende ser uma “janela” da Terra para o mundo. Surgiu com a motivação de dar notícias atualizadas de Soajo. Dinamizado por Rosalina Araújo e Armando Brito. Leia-o e divulgue-o.

Soajo em Notícia

Este blogue pretende ser uma “janela” da Terra para o mundo. Surgiu com a motivação de dar notícias atualizadas de Soajo. Dinamizado por Rosalina Araújo e Armando Brito. Leia-o e divulgue-o.

Se há aldeias isoladas que arriscam cair no esquecimento, a Várzea é uma delas. Com mais portas fechadas do que habitantes, este idílico lugar de Soajo está quase esvaziado de pessoas e sem esperança no futuro, dado o envelhecimento populacional e a falta de oportunidades para construir uma vida sem direito a serviços de proximidade.

Quem atravessa a estrada de baixo (estreita, sinuosa e desprovida de guardas de proteção) rumo ao lugar da Várzea não tem como não reparar no cenário desolador que vislumbra ao redor: no sopé da encosta avistam-se as antigas veigas agora descobertas pela acentuada descida do volume de água na albufeira, que se apresenta com menos de 18% da sua capacidade total de armazenamento. “A albufeira está quase sem água, não me lembro de alguma vez ter estado tão baixa como agora”, diz dona Rosa, uma versão que o senhor Costa confirma em pleno.

Apesar de ser um motivo de atração turística para os grupos de caminheiros que percorrem o Trilho da Mistura das Águas (assim como de nostalgia para quem trabalhou e viveu da terra antes da construção da barragem), a atual situação de baixa reserva hídrica ameaça tornar-se um problema muito severo caso a chuva continue a tardar.

Mas a descaracterização do património também não deixa ninguém indiferente mal se chega ao largo fronteiro ao terminal do lixo. Aí, o mais vistoso aglomerado de espigueiros que embeleza(va) o núcleo rural da Várzea é, agora, uma ruína com mato crescido à volta, sinal do abandono a que foi votada esta aldeia com paisagens que mais parecem tiradas de um bilhete-postal.

Atualmente, na aldeia da Várzea moram apenas 22 pessoas e as casas devolutas são em muito maior número do que as habitadas. “Daqui a semanas, seremos ainda menos, talvez 11 ou 12, porque vários dos atuais residentes vão passar o Natal a casa dos familiares que vivem no estrangeiro, sobretudo em França e em Andorra”, conta Rosa, de 67 anos, que ocupa os dias no maneio da horta e do rebanho de dez ovelhas.

A emigração é, na opinião dos habitantes, a principal razão do despovoamento e do envelhecimento da população. “[Devido ao êxodo de várias gerações para o estrangeiro], faz muitos anos que não nasce um bebé na Várzea!”, exclama Rosa. Em sintonia, a vizinha Olívia reforça que “quem nasce fora não está ligado à terra e para aqui não vem”.

Além da falta de pessoas, a Várzea está despovoada de equipamentos, desde logo a escola primária (telescola) que foi encerrada há mais de trinta anos. “Agora, não há nada, nem café, nem mercearia… E a Casa do Povo também não está ativa”, atira Rosa, que, na ausência de qualquer atividade associativa, improvisa um espaço de convívio ao ar livre, semana a semana, com algumas conterrâneas, incluindo as suas duas irmãs.

A aldeia só está no roteiro dos partidos na altura das eleições, e, nesta circunstância, é a iniciativa privada que faz vingar o direito de a pequena comunidade viver no sítio a que se sente ligada.

“O padeiro (de Rouças e/ou de Paradela) vem quatro vezes à semana, o homem do peixe passa todas as sextas e o merceeiro ambulante às terças”, refere Rosa, acrescentando que o carteiro “só vem semana a semana quando tem um molhinho de cartas ou correspondência considerada prioritária”. De resto, os condicionalismos também afetam a Igreja neste aglomerado de fervor religioso que “só celebra missa de 15 em 15 dias”.

Uma realidade leva à outra e o sossego é algo que não falta neste lugar para quem pretende fintar o stresse da vida citadina, mas os residentes não contêm as emoções quando se fala de silêncio. “Ah, meu Deus, aqui o silêncio é demasiado… Atravesso o lugar, do fundo ao cimo, e não encontro vivalma”, desabafa Rosa. “Já estamos habituados a tudo”, responde o senhor Costa, antes de explicar a razão por que não vê “futuro nenhum na Várzea”.

“Você percorre o lugar e só encontra varas [cajados] nas portas (mesmo em casas onde não há animais) para as pessoas idosas se ampararem, porque já mal conseguem andar”, constata este antigo emigrante, de 81 anos.

A maioria do núcleo residente está na faixa dos 70 e mais anos, “o mais jovem tem 60 ou 61”. Usando uma das expressões típicas da serra de Soajo, Rosa diz que “todo o mundo vive da reforminha e as viúvas estão reformadas delas e dos maridos que andaram pelo mundo”.

Habituados, igualmente, a percorrer muitos quilómetros para fazer o que é preciso, os habitantes lamentam que não tenham outra alternativa que não ir aos Arcos para “tratar de assuntos que não podem resolver na vila de Soajo”, dada a falta de acesso generalizado a serviços de interesse geral, incluindo transportes públicos. Não admira, por isso, que dona Rosa “só muito raramente vá à vila soajeira” ou que o senhor Costa apenas se desloque aí “quando há feira”.

Potencialidades turísticas por explorar

Acreditava-se que a iniciativa transfronteiriça “Fronteira Esquecida”, em curso desde julho de 2019, com fundos europeus aprovados no âmbito do programa Interreg, pudesse dar um “empurrão” ao projeto de desenvolvimento da albufeira da Várzea, sucessivamente adiado por falta de verbas, mas, na prática, o Plano de Ordenamento das Albufeiras, prevendo a construção de um ancoradouro na Várzea, ainda não saiu da “gaveta”, a despeito de a bacia do Lima oferecer condições únicas para a prática de desportos náuticos, se a mesma fosse dotada das devidas condições infraestruturais.

Apesar da inércia e do imparável declínio da Várzea, há, ainda assim, quem aposte no restauro de casas com o objetivo de explorar o filão do turismo em espaço de natureza, ou, então, com o intuito de passar temporadas no lugar, talvez para contrariar o destino do “desaparecimento” que alguns habitantes vaticinam.

“Tem havido gente a procurar casa, falo designadamente de dois forasteiros (um de Ponte da Barca e outro de Ponte de Lima) que adquiriram imóveis, um dos quais para alojamento turístico”, revela o senhor Costa.

Muito embora ninguém queira construir vida em lugar isolado e ameaçado pelo esquecimento, admite-se, ainda assim, que, na condição de haver uma boa rede de comunicações eletrónicas, alguns turistas ou nómadas digitais possam dar algum ânimo à Várzea no futuro, mas viver aí em permanência já parece uma miragem…

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A Assembleia de Compartes dos Baldios de Soajo reúne-se, em sessão ordinária, no próximo dia 4 de dezembro, tendo como ponto único da ordem de trabalhos a eleição dos corpos gerentes, nomeadamente Conselho Diretivo, Assembleia de Compartes e Comissão de Fiscalização. Ao ato eleitoral apresentam-se duas candidaturas.

Compõem a lista A (de continuidade) os seguintes elementos:

. Conselho Diretivo | Cristina Martinho (presidente), Edgar Belchior (vice-presidente), Olga Gomes (tesoureira), Ivo Baptista (vogal), Alberto Rodrigues (vogal) e Maria Afonso Pires (vogal).

. Mesa da Assembleia | António Esteves Brasileiro (presidente), António Barros Neto (vice-presidente), Estrela Ribeiro (1.ª secretária), Jaqueline Gomes Fidalgo (2.ª secretária), Alexandre Rodas (vogal), António Carvalho (vogal) e Lourenço Couto (vogal).

. Comissão de Fiscalização | Diamantino Pedro (presidente), António Barbosa (vice-presidente), Manuel Silva (vogal), Alexandre Preto Gonçalves (vogal), Albino Moreira de Brito (vogal) e Jorge Gomes Esteves (vogal).

Por seu lado, integram a lista B (alternativa aos atuais órgãos em funções) os seguintes candidatos:

. Conselho Diretivo | António Cerqueira “Catito” (presidente), Ana Lage (vice-presidente), Rui Araújo (1.º secretário), Rosalina Araújo (vogal), Manuel Morgado Couto (vogal), José António Gomes (vogal), Venâncio Domingues (vogal), Susana Gomes (vogal), Manuel Barreira Araújo (vogal) e Albino Amorim Veloso (vogal).

. Mesa da Assembleia | Vítor Covelo (presidente), Tiago Brito Dias (vice-presidente), Ana Filipa Correia (1.ª secretária), Sara Pedro (vogal), Américo Peixoto (vogal), Daniel Rodas Couto (vogal), Sandra Enes (vogal), Francisco Barros (vogal), Pedro Araújo (vogal), Teresa Rodas Cerqueira (vogal) e Maria Teresa Cunha (vogal).

. Comissão de Fiscalização | Paulo Jorge Santos (presidente), Albino Enes (vice-presidente), Manuel Gonçalves Lage (vogal), Dorinda Domingues (vogal) e Gracinda Fidalgo Pires (vogal).

No passado domingo, 21 de novembro, foi inaugurado, na Casa do Povo da Vila de Soajo, um dos polos da bienal D’Art-Vez, a exemplo do que já tinha acontecido em 2019. A mostra com 16 trabalhos reflete uma grande variedade de tópicos à volta do tema-âncora, o território (património natural e arquitetónico, identidade e etnografia, usos e costumes…).

Desde 1994 que a D’Art-Vez é dedicada às diversas expressões de arte e 2021 não é diferente. A 13.ª edição do festival reúne trabalhos de 124 artistas (nacionais e internacionais), incluindo os soajeiros Bino (Albino Enes) e Rosa Adriaco. De uma forma ou de outra, a maioria salienta o incessante diálogo que a expressão artística mantém com a pintura, os lugares, as gentes, as paisagens e as transformações do mundo.

No lançamento da iniciativa no salão da Casa do Povo, o curador António João Queiroz Aguiar sublinhou que a mostra em Soajo concretiza, de novo, o desafio da “descentralização” do evento em terras soajeiras. “A D’Art-Vez já se habitou a vir a Soajo, é muito importante a arte vir a estes locais, porque ela faz parte da nossa cultura e da vida das pessoas. Vejamos o caso dos espigueiros: foi a necessidade que levou o Homem a inventar esta estrutura de pedra, transformada hoje numa peça de obra de arte”, disse o escultor.

Por seu lado, o presidente da Câmara Municipal desafiou a comunidade a “marcar a diferença através daquilo que nos é mais intrínseco, que reside na nossa cultura identitária, pois qualquer processo de desenvolvimento não se consegue fazer sem cultura e sem as pessoas”, disse João Manuel Esteves, realçando a importância “simbólica de a primeira ação formal do novo executivo da Junta de Soajo ter sido um ato de cultura”.

A exposição estará patente até 30 de janeiro do ano que vem.

“Rainha” do outono degustada com vinho novo

Depois de inaugurada a exposição, a Casa do Povo da Vila de Soajo promoveu, com a preciosa ajuda de voluntários, o seu tradicional magusto à volta das castanhas assadas e do vinho novo, em ambiente de grande confraternização, ao som da concertina dedilhada por Joaquim Amorim e José Alves.

Segundo o presidente da coletividade soajeira, foram gastos “200 euros em castanhas (40 kg), vinho (20 l) e outras bebidas (sumos e coca-cola)”, nesta organização que “valorizou as tradições da terra”.

Apesar de visivelmente satisfeito pela adesão da comunidade soajeira e pelas reações dos vários artistas participantes na mostra, Manuel Carvalho já tem em mente “trabalhos de beneficiação do soalho do salão da Casa do Povo, com o objetivo de melhorar as condições aí existentes”.

Uma outra necessidade detetada, na circunstância para valorizar justamente as mostras de arte, passará pela colocação de projetores de luz sobre os trabalhos de parede expostos, um investimento que carecerá igualmente de apoio municipal.

A Casa do Povo da Vila de Soajo recebe a exposição “D’Art-Vez no Território”, no próximo domingo, 21 de novembro (pelas 15 horas). A mostra da bienal com 11 trabalhos (pinturas) estará patente até 30 de janeiro do ano que vem.

No final da cerimónia de inauguração, a Casa do Povo organizará o seu tradicional magusto para o grupo de convivas degustar a “rainha” do outono regada com vinho tinto.

A bacia do Lima, que engloba as albufeiras de Soajo/Lindoso e S. Jorge/Touvedo (esta com 4% da capacidade de armazenamento da primeira), registava à data de 15 de novembro uma disponibilidade hídrica armazenada de 17,8%, nível bastante inferior ao volume médio de 56,9% apresentado para o período em questão, segundo os dados reunidos pelo Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH).

Devido à seca, o volume de água armazenado na bacia do Lima tem vindo a baixar significativamente desde setembro, situação que se está a agravar neste mês de novembro dada a não ocorrência de precipitação. Recorde-se que, no início de junho, a reserva da bacia que detém a principal hidroelétrica nacional (Soajo/Lindoso) registava uma disponibilidade hídrica de 69%.

No mapa do SNIRH referente ao armazenamento das albufeiras a nível nacional verifica-se que a bacia do Lima é a segunda do país com menor percentagem de água armazenada neste período do ano (só a bacia do Barlavento se encontra em pior situação, com 13,9% de disponibilidade hídrica).

Numa altura em que o nível de armazenamento da bacia do Lima está como há muito não se via, as antigas veigas da Várzea que se encontravam submersas estão agora à vista. Apesar de ser um momento de atração turística (e de saudade para quem trabalhou e viveu da terra antes da construção da barragem), a descida gradual das águas ameaça tornar-se um problema muito severo caso os índices de pluviosidade no inverno fiquem aquém do normal.

A Casa das Artes recebe, este domingo, 14 de novembro (depois das 16.00), o cantador Leiras de Soajo, no âmbito do projeto “De Repente Canta a Gente” (promovido pela CIM Alto Minho), que pretende divulgar os cantares ao desafio.

Além do famoso artista soajeiro, participam na iniciativa jovens alunos selecionados nas escolas que acompanharão o mentor do projeto, Augusto Canário, e Carlos Rodrigues, bem como o produtor e DJ arcuense Freak J, este com o papel de fundir diferentes estilos musicais.

Os alunos das escolas arcuenses que vão atuar no palco foram escolhidos em sessões nas quais demonstraram particular interesse e aptidão pela desgarrada, numa ação que procurou ensinar aos mais novos a forma de cantar e os segredos desta tradição.                                                                   

No término dos respetivos mandatos, prorrogados por cerca de um ano e meio, devido à inexistência de condições para a realização de eleições (tendo em conta as restrições impostas pela crise sanitária), está finalmente em curso a preparação do ato eleitoral para a futura administração dos Baldios.

Ainda sem data confirmada (possivelmente a 27 de novembro), concorrem à Assembleia Geral – que vai eleger a Mesa da Assembleia de Compartes, o Conselho Diretivo e a Comissão de Fiscalização – duas listas, uma das quais encabeçada por Cristina Martinho, presidente em exercício do órgão de gestão dos Baldios, e uma segunda liderada por António Cerqueira, reeditando-se assim o duelo que, nas eleições de 2016, foi muito disputado e que originou fortes divergências por alegada “desorganização” do ato.

Recorde-se que as eleições nos Baldios de Soajo, em circunstâncias normais, deveriam ter sido realizadas em maio de 2020.

Um povoamento da mata da Cascalheira, “santuário” natural que resistiu aos terríveis incêndios do verão de 2016 (e onde residem importantes habitats e abrigos de animais selvagens), está a ser alvo de uma intervenção pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que tem vindo a monitorizar aquela grande mancha verde da serra de Soajo.

“Por razões de renovação/gestão florestal, está a proceder-se ao abate de uma mancha de pinhal com uma extensão de 5/6 hectares, sensivelmente”, disse ao blogue Soajo em Notícia a presidente do Conselho Diretivo dos Baldios de Soajo, acrescentando que a operação de desmonte, em fase de conclusão, tem em vista remover o pinhal com sintomas de “declínio (que não doença) devido à sua avançada idade”.

Para Cristina Martinho, a ação permitiu “rentabilizar atempadamente os recursos existentes (e antes que ocorresse algum incêndio)”, criando-se ainda condições para a respetiva rearborização de modo a “acrescentar valor” à mata da Cascalheira.

A fim de valorizar a fileira do pinho no território nacional, o ICNF tem vindo a adotar procedimentos no sentido de melhorar a gestão florestal, incluindo práticas fitossanitárias.