A Assembleia de Freguesia de Soajo, realizada a 3 de setembro na Casa do Povo, teve como principal deliberação a autorização, pela maioria social-democrata, da compra do terreno situado no lugar de Covelo e que já está em uso para estacionamento, pelo preço de 25 mil euros. O PS não se fez representar por indisponibilidade dos seus três vogais eleitos nesta sessão bastante concorrida pelo público, que ouviu o secretário da Junta garantir que a “prioridade” do executivo passa por “reaver o terreno que foi roubado a Soajo”.
Depois de nada ter dito sobre a atividade do executivo no último trimestre, o presidente da Junta de Freguesia frisou, no arranque dos trabalhos, que o terreno usado para estacionamento [nas proximidades do Poço do Bento] pelos veraneantes em 2022 e 2023 “já tinha sido objeto de conversa com o proprietário, mas o assunto tinha de ser discutido em sede de Assembleia, para que esta autorizasse a aquisição do mesmo, porque só assim poderemos continuar as obras, nomeadamente a execução do piso”, explicou Alexandre Gomes. Os seis eleitos da maioria social-democrata aprovaram, por unanimidade, a proposta, sem suscitar qualquer interpelação.
No ponto seguinte, os membros da Assembleia autorizaram a cedência de alguns artigos que se encontravam na posse da Junta à Comissão de Baldios da Freguesia. “Há artigos em nome da Junta que têm de ser transferidos para a gestão dos Baldios, quanto mais não seja para que os Baldios possam futuramente submeter projetos. Entendemos que não faz sentido haver duas entidades a gerir determinadas áreas baldias, isto assim não funciona”, atalhou o presidente da Junta, que viu a sua pretensão satisfeita sem a menor objeção do grupo social-democrata.
O ponto 4 – “Futuro e finalidade do terreno de Trás de Outeiros [imediações da Casa do Povo]” – não foi colocado a discussão, em virtude de subsistirem questões que requerem um cabal esclarecimento. “Supostamente, o terreno era da Junta de Freguesia, mas a inscrição deste ponto na Ordem de Trabalhos suscitou observações por parte de vários soajeiros, uma vez que o pagamento do referido prédio rústico está por liquidar, a sua propriedade não é detida pela Junta, eventualmente, o mesmo poderá passar para a posse da Câmara, visto esta ter assumido a maior parte da despesa. É, pois, uma questão que vamos ter de debater com o presidente da Câmara e com os proprietários do terreno, só depois de sanar as questões em aberto é que poderemos concretizar a ideia de executar um parque de estacionamento para tirar os carros da estrada, uma vez que a ideia original, lar de idosos, está fora de questão”, adiantou o presidente da Junta.
Noutro âmbito, e em resposta a uma interpelação de António Amorim (elemento do público), Ivo Baptista aclarou que o ‘marco’ colocado no Alto da Pedrada a sinalizar a serra de Soajo e a sua altitude resultou de “uma proposta apresentada por um grupo soajeiro que se dirigiu à Junta e aos Baldios a pedir um apoio para instalar lá a pedra, nós [Junta] decidimos apoiar porque o ‘marco’ fazia falta na serra há muito tempo”, disse o secretário da Junta.
Interpelações do público
No período destinado ao público, Manuel Barreira sublinhou que “os dois proprietários (dois irmãos meus) do terreno de Trás de Outeiros se encontram atualmente em Soajo, sendo, portanto, esta uma boa altura para resolver o que há para resolver”.
Manuel Couto salientou que “o parque de estacionamento [em Covelo] só tem quatro ou cinco carros parqueados todos os dias e, ao invés, a estrada está cheia de carros nas duas faixas, sou de opinião que as entidades competentes deviam fazer as necessárias diligências para pôr cobro a esta situação”.
Manuel Gonçalves solicitou “a colocação de um sinal a proibir o estacionamento e a paragem de carros na entrada de um caminho, nas proximidades da Casa do Povo, de modo a acabar com o impedimento de aceder” à respetiva residência.
Estrela Ribeiro recordou, uma vez mais, que “o depósito da água, no lugar de Adrão, está todo rachado e a perder muita água”.
Teresa Araújo questionou “o critério subjacente às limpezas na vila de Soajo, porque os caminhos em direção às Aranhas e Pereiró foram limpos, mas depois nada foi feito”. Noutro plano, a mesma depoente lamentou que “os motociclistas transitem em caminhos e estradões, do Parque Nacional ou não, onde falta sinalética de proibição e onde os estragos são bem visíveis, como é o caso do Caminho da Calçada, que está a ficar todo destruído”.
Por seu lado, António Amorim manifestou-se “inquieto por os elementos da Assembleia não se terem pronunciado sobre nenhum dos assuntos suscitados, para mim, é estranho, porque, apesar de haver mais anarquia noutros tempos, as sessões eram mais participadas pelos membros da Assembleia”.
Noutro plano, António Amorim trouxe à baila o tema que dominou a Assembleia precedente, constatando que “o recebimento indevido, por um serviço que não foi prestado por elemento da Junta, em pretenso regime de meio tempo, só tem uma solução, por uma questão de transparência: a entidade que pagou tem de ser ressarcida do respetivo valor. Podem dizer que há o problema do IRS ou da Segurança Social, mas é bom frisar que, em qualquer momento, podemos fazer uma alteração à folha do IRS”, notou.
O mesmo depoente defendeu, em nome da preservação do ambiente, a aposta na vertente “pedagógica”, através da colocação de placas com a inscrição ‘Não deite lixo para o chão’, para fomentar a adoção de boas práticas em matéria de asseio do espaço público.
Em relação à dinamização da componente cultural, António Amorim é de opinião que “devia haver uma articulação entre a Junta e as associações soajeiras, porque estas não podem servir só para fazer almoços, apesar da importância dos convívios, urge que elas desempenhem alguma atividade cultural. Os subsídios atribuídos às associações deviam obedecer a contrapartidas, infelizmente, não vejo nenhuma iniciativa de domínio cultural em vários anos! Entendo que as associações podem colaborar com vista à dinamização da atividade cultural em Soajo”, reforçou.
António Amorim observou, ainda, que “Soajo é das poucas freguesias onde não há contentores do lixo nas proximidades do cemitério. Os meus terrenos junto ao cemitério não são contentores de lixo, é verdade que já fizeram uma limpeza [remoção de flores, vasos, esponjas das floreiras…], mas, se a Junta não tomar medidas, vou trazer o lixo para o Largo do Eiró”, alertou.
O mesmo cidadão notou que, por ocasião da Feira das Artes e Ofícios Tradicionais (FAOT), “foi colocado um outdoor enorme nos Arcos (nas imediações da ‘Ponte Nova’), mas no local onde o certame se realizou não havia um cartaz. Acho isto muito estranho, como também questiono a disponibilização dos folhetos apenas uma semana antes do evento. Será uma tentativa para acabar com a FAOT?”, perguntou.
Na mesma toada, António Amorim lastimou que “o Caminho de Crasto e o Caminho da Reigada estejam transformados em pistas de motocross, não custa nada colocar uma placa a proibir a circulação de motards à entrada do caminho, o não conhecimento da lei não iliba os motociclistas, mas, pelo menos, conviria colocar placas”.
Por fim, Amorim sugeriu que se olhe com atenção para o “Plano de Ordenamento das Albufeiras para impulsionar a atividade náutica na zona de Soajo”; que se crie “um programa de iniciativas viradas para a preservação de tradições, desde logo a recuperação da festa da transumância ou a recriação do caldo de farinha”; que se promova um “banco de ideias participado e consistente em prol de Soajo”; que se bata o pé contra a "política de protocolos (municipais) iguais para todas as freguesias"; e que “haja mais ousadia por parte do executivo através da submissão de candidaturas a fundos comunitários”.
Sobre esta reflexão, o secretário da Junta admitiu que “o dinheiro é escasso, muita coisa vai ficar por fazer neste mandato, claro que gostávamos de ter o Largo do Eiró mais arranjado ou de intervir em todas as fontes da vila e dos lugares, que se encontram todas em mau estado, mas a nossa prioridade nos próximos tempos é reaver o terreno que nos foi roubado, a Carta Administrativa Oficial tem de corresponder ao terreno que é nosso. Depois, veremos o dinheiro que sobra para reparar as fontes, não podemos prometer porque estamos a trabalhar com 40/45 mil euros por ano. É um absurdo a Câmara atribuir a mesma verba a todas as freguesias, porque estas não são todas iguais, e porque, na verdade, Soajo é uma união de sete freguesias”, sustentou Ivo Baptista, observando que “o caminho das candidaturas a fundos europeus pode ser uma boa solução para dotar a Junta de instrumentos financeiros tendo em vista a realização de projetos na freguesia”.
Manuel Araújo (“Leiras”) reforçou a necessidade de as entidades competentes proibirem a atividade motard nos trilhos da serra de Soajo e questionou as práticas discricionárias em relação ao estacionamento no Largo do Eiró, com alguns condutores a serem autuados e outros não.
Enfim, Jorge Fernandes reclamou mais atenção às “grades viradas para cima à porta de casa, onde já caí e parti um dedo da mão”, relatando outras situações do género que já ocorreram. O mesmo depoente queixou-se do “estacionamento abusivo” à entrada dos caminhos, dificultando a operação dos meios do socorro e a mobilidade dos residentes.