A albufeira de Soajo/Lindoso regista uma reduzida reserva hídrica apesar da chuva que tem caído, espaçadamente, desde outubro. A drástica descida da barragem está a fazer emergir lembranças no lugar da Várzea, onde agora estão completamente a descoberto as antigas veigas, o património histórico (moinhos ou espigueiros) e outros destroços que deviam estar submersos em pleno vale do rio Lima.
No momento presente, a referida barragem está com menos de 30% da sua capacidade de armazenamento, com repercussões óbvias em toda a bacia do Lima, sendo de prever um agravamento da situação no próximo verão. Há cerca de três anos, numa situação parecida à atual, a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho adotou uma campanha de sensibilização com vista à poupança de água, sobretudo de uso doméstico, mas, desta vez, a entidade que agrega os municípios da região ainda não tomou qualquer posição pública sobre a situação, sendo certo que, como tem lembrado a associação Quercus, “quanto mais diminuir a quantidade das reservas, pior fica a água em termos de qualidade”.
Como documentam as fotos tiradas no feriado de 8 de dezembro, por motivo do reduzido nível de armazenamento hídrico, há no idílico lugar da Várzea um imenso património destapado, entre antigas veigas, socalcos, caminhos agrícolas, espigueiros (desmembrados) e currais, facto que encerra uma mistura de sentimentos e de lembranças nos residentes, com estranhas sensações de deslumbramento e de tristeza ao mesmo tempo.
Por entre terras enlameadas devido à chuva que tem caído, voltam a vislumbrar-se neste lugar de Soajo os destroços de um espigueiro de pedra, conhecido localmente por “caniço das Medas”, que emergiu com o recuo do leito da albufeira, e os labirínticos caminhos agrícolas, completamente descobertos e ladeados de pedra, nas imediações de uma corga, com uma vista ampla e despertadora de memórias para quem cultivou estas veigas, rodeadas de vinha, até início dos anos noventa do século passado. Por lá, de longe, sobressai agora uma azenha, com a estrutura quase intacta, apenas amputada da sua cobertura. E, numa caminhada ao fundo do vale, estão à vista os troncos da vinha que se erguia encosta acima e os socalcos aprumados até onde a água deixou.
Três anos depois, apesar do preocupante reencontro com a história, redescobre-se, com algum encantamento à mistura, o sopé do lugar da Várzea, onde a perigosa estrada que “desagua” na povoação (reduzida a 25 moradores) continua desprovida das imprescindíveis guardas de proteção.