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Soajo em Notícia

Este blogue pretende ser uma “janela” da Terra para o mundo. Surgiu com a motivação de dar notícias atualizadas de Soajo. Dinamizado por Rosalina Araújo e Armando Brito. Leia-o e divulgue-o.

Soajo em Notícia

Este blogue pretende ser uma “janela” da Terra para o mundo. Surgiu com a motivação de dar notícias atualizadas de Soajo. Dinamizado por Rosalina Araújo e Armando Brito. Leia-o e divulgue-o.

Decorreu, de 22 a 24 de julho, a 21.ª edição da Feira das Artes e Ofícios Tradicionais (FAOT) de Soajo, com mais de vinte expositores (entre tasquinhas, artesanato, endogenia e gastronomia) e um programa que aliou a tradição à mostra de saberes e sabores da Terra. As elevadas temperaturas impediram um maior afluxo de pessoas nas tardes do fim de semana, mas o espetáculo noturno do grupo “Sons do Minho” e a noite das rusgas levaram muita gente à FAOT, ajudando a salvar um pouco o negócio do evento que regressou após dois anos de interregno (devido à pandemia) e que este ano abriu com “chave de ouro” com os cantadores Leiras de Soajo e Carminda dos Arcos a darem um autêntico recital de improviso.

O Largo do Eiró voltou a ser o epicentro da iniciativa. A mostra de artesanato e de ofícios tradicionais, primitivamente a razão de ser do certame, já não tem o fulgor de outros tempos (as demonstrações ao vivo acabaram há anos…), mas as famosas construções (espigueiros em miniatura) sobressaem sempre pela beleza e pelo primor nos pormenores. Também se viram nos stands, muitos dos quais pertença de soajeiros, felizes reaproveitamentos de materiais naturais, bonitas peças de vestuário e requintadas bonecas, da artesã Gracinda Gonçalves, conhecida pela habilidade com que costura indumentárias de tempos idos, segundo as várias circunstâncias (trajes de trabalho, de festa…).

Noutra ala do recinto, estiveram posicionadas as “tasquinhas”, onde foram degustados as típicas iguarias da endogenia, como os fumados e a deliciosa carne cachena da serra de Soajo, sem esquecer a gastronomia caseira (rissóis, pataniscas, bolinhos de bacalhau, moelas, panados, bifanas…). Por perto, quem quis provou os néctares da região, os licores, as compotas, o mel…

Sem surpresa, o pão-de-ló, um dos maiores embaixadores de Soajo, foi um dos produtos mais procurados da feira, “principalmente na noite das rusgas”, segundo disse ao blogue Soajo em Notícia Debra Abelheira. Nos expositores vizinhos, os produtos com o selo d’As Marias também tiveram alguma saída, mas a Cristina Costeira e Lisa Araújo não faltou trabalho no espaço de takeaway (também mercearia) que ambas inauguraram em abril de 2021 na zona da Torre.

Terra pródiga em tradições

Para lá dos petiscos e da doçaria de qualidade superlativa, Soajo é terra famosa por ser uma localidade com ricas tradições, que, apesar de estarem a cair em desuso, ainda assim, vão sendo recriadas pelas associações locais de tempos a tempos. O programa de domingo permitiu que o público “descobrisse” e/ou revivesse os “velhinhos” carros de vacas com o ‘desfile da tradição’ e a malhada do milho… Uma e outra atividade dizem muito de onde vem o povo soajeiro. Os dois primitivos meios de transporte (que, nesta circunstância, carregaram espigas de milho, alguma forragem e um arado, como podiam levar lenha, dornas ou fertilizantes) percorreram as labirínticas ruas (e caminhos) do centro histórico de Soajo, desde a Casa do Povo até à Eira do Penedo, num cortejo dominado pelos cantares da terra, pela concertina, pelos trajes e, claro, pela farta chiadeira.

É bom lembrar que, não há muitas décadas, as famílias trabalhavam com estes carros de vacas e era assim que carregavam tudo. Era um trabalho duro que pouco rendimento dava. Nesses tempos passados, era do milho que os soajeiros (e não só) “fintavam” a pobreza. Para recuperar essas memórias, foi recriada, ao som das concertinas e dos cantares de Soajo, a malhada tradicional do milho no monumental conjunto de espigueiros, com a serra como “pano de fundo” – é da serra de Soajo, aliás, que provinha (e ainda provém) uma parte da sobrevivência do povo soajeiro, através da criação de gado e da produção de mel.

Ainda no domínio da essência da Terra, rica em paisagens e elementos naturais de rara beleza, afortunada a ideia de oferecer um programa de atividades de natureza em perfeita simbiose com a cultura ancestral de Soajo, como o trilho dos Caminhos do Pão e Caminhos de Fé, os passeios de charrete e os batismos a cavalo, iniciativas através das quais a organização conseguiu ressaltar as riquezas que povoam o território de Soajo, cuja natureza em estado puro e o património construído fazem parte de qualquer cartaz dedicado ao “coração” do Parque Nacional.

Mas o primeiro grande momento de exaltação do orgulho de ser soajeiro aconteceu logo na sexta-feira (à noite), junto ao Pelourinho, onde o programa histórico-cultural da FAOT teve um arranque em grande estilo com a dramatização da emblemática peça O Juiz de Soajo, com vivas a Sarramalho, “o melhor, o mais justo, o mais digno e o maior da serra”.

A música de raiz popular, como já é tradição, teve no cartaz um recheado festival folclórico, quer com a “prata da casa”, quer com grupos forasteiros convidados. Além do Rancho das Camponesas da Vila de Soajo e do Rancho de Vilarinho das Quartas, a organização deu palco ao Rancho de Eiras e ao Rancho da Associação Recreativa e Cultural de S. João de Rio Frio, que levaram numerosa assistência à “sala de visitas” de Soajo para aplaudir esta manifestação de cultura popular, que, como bem se viu, continua a atrair muitos elementos juvenis para os tablados.