O sol parece que veio para ficar e os trilhos em comunhão com a natureza, mais do que uma tentação, são uma forma de evasão. As propostas são mais do que muitas e o difícil é escolher um circuito para começar a descobrir os refúgios de Soajo.
O trilho que atravessa o Caminho da Ladeira é um dos melhores para se fazer à aventura no meio de uma paisagem pura e selvagem. É um circuito pequeno. Cerca de 1900 metros, ida e volta, que encaixam, a preceito, na Reserva Mundial da Biosfera. O percurso inicia-se, justamente, junto à placa toponímica “Caminho da Ladeira”.
Com a escola primária e os espigueiros (da Eira Comunitária) nas costas, os primeiros passos denunciam logo algumas atrações para um passeio pedestre (talvez organizado no futuro!). É olhar com atenção, à direita, para uma mina sobranceira, espécie de caverna, “espetada” num socalco. A seguir, em contraste, saca-se uma foto a um velho cortelho transformado em armazém de lixo e, sem esperar, admira-se uma borboleta que, em voo rasante, posa, num ápice, na (densa) vegetação, para um flash. À frente, onde “acabam” os terrenos em socalco, espreita-se a ruína de duas casas do campo.
Para ir daqui à Ponte da Ladeira, há que descer por um caminho estreito, aqui e acolá, repleto de vegetação e de arbustos. É um percurso para ir parando, olhando e desfrutando das vistas do horizonte. O caminho é recortado por pedras e piso desnivelado, com vales em cuja cumeeira se vê, nesta época primaveril, uma vegetação cheia de vida, e a paisagem é dominada por carvalhos, giesta, acácia, urze e hipericão. Toda a flora revela um conjunto autóctone. Mas o muito material combustível disseminado por pequenas bouças pode funcionar como um rastilho para incêndios devastadores, sobretudo quando os peritos anunciam um verão hostil…
Se o Caminho da Ladeira reclama, como se depreende por este relato, uma recuperação urgente para uma melhor mobilidade dos pedestrianistas, que dizer então da desleixada Ponte da Ladeira? É um belo monumento que, no entanto, carece de uma intervenção, pois nele até o gradeamento se apresenta inseguro. E, nas cercanias, falta um espaço condigno para piqueniques.
Neste pedaço de natureza, onde o chilrear é “música para os ouvidos”, brota água oxigenada pelas lagoas que atravessam o chamado “Trilho da Água”, onde, a montante, o Poço Negro é uma das principais atrações para banhos refrescantes. Como também o são os poços das Canejas e o do Luzio, que precedem o da Ladeira. Pena que nestas riquezas naturais, de águas límpidas (e revoltas no inverno), as trutas selvagens e autóctones, tão desconfiadas quanto lutadoras, como os antigos as definiam, sejam preciosidades cada vez mais raras.
É no sopé do vale que, ouvindo o barulho do chapinhar da água nas fragas (outro dos sons do veraneio), se poderia aproveitar o espaço disponível (quase todo coberto de mato) para obrigar o corpo a abrandar… Era boa ideia instalar sinalética, painéis informativos e, sobretudo, equipamentos (espreguiçadeiras, por exemplo…) para relaxe dos caminheiros – estes, num roteiro vespertino, tinham como passar o tempo até ao pôr-do-sol, antes do regresso ao ponto de partida, percurso no qual, com alguma sorte, é possível avistar fauna selvagem como o javali, o veado ou o corço.
Mas a operacionalização deste trilho reclama uma estratégia de recuperação para valorizar um património natural que tem enorme potencial. Neste sentido, a candidatura ao ‘Programa 2020’ de projetos diferenciados surge – na condição de haver conhecimento, capacitação e trabalho de parceria – como um instrumento de financiamento ao dispor dos territórios que, sendo de baixa densidade, beneficiam, no entanto, de um rico espólio natural, como é o caso de Soajo.
Só que, pelo menos até agora, a ver pela falta de esclarecimentos prestados em sucessivas assembleias de freguesia, nenhum projeto de envergadura foi candidatado pela Junta de Soajo àquele programa comunitário, bastante direcionado para o turismo de natureza.
Daqui a pouco pode ser tarde…