Deputada Sandra Barreira propõe medidas na Assembleia Municipal para responder ao turismo “selvagem”
Desde 2014 que o órgão deliberativo municipal debate mais o ambiente do que a economia, tendência que se tem vindo a acentuar no mandato iniciado em outubro de 2017, e, com base nesta orientação, o fórum de 25 de setembro voltou a ser dominado pela sustentabilidade ambiental.
Avalanche de visitantes, estacionamento abusivo, amontoados de lixo, aumento da pressão sobre a natureza e falta de regras: a “febre” turística que se fez sentir este verão em Soajo (e em todo o concelho) esteve em foco na Assembleia Municipal, onde se refletiu um pouco sobre o turismo (in)sustentável e o risco de o turismo massificado trazer “problemas ambientais” e “sobrecarrega” aos locais de destino.
“Queremos turistas, precisamos de turistas, mas não a qualquer custo. Não nos pode interessar o turismo que não respeita a população, a natureza, as limitações próprias de áreas que devem ser preservadas e não sujeitas ao excesso de pessoas, ao abandono do lixo, à destruição da vegetação... Não se pode permitir tudo”, assim lançou a reflexão a deputada soajeira, Sandra Barreira, que também é autarca na Junta de Freguesia de Soajo.
“É certo e sabido que o turismo é uma das principais alavancas da economia local e nacional. E hoje, mais do que nunca, não temos como não saber que somos habitantes de um território com uma riqueza natural vasta e ímpar, não temos como não reconhecer os valores que devem ser preservados, não temos como não antecipar problemas e orquestrar soluções para os problemas que se arrastam no tempo”, alertou a eleita nas listas da CDU.
No estio de 2020, segundo Sandra Barreira, “as freguesias mais turísticas do concelho”, em plena crise pandémica, confrontaram-se com “lixo em excesso e abandonado em qualquer sítio, caravanismo selvagem, excesso de pessoas em alguns locais com limitações naturais e incumprimento das orientações da DGS, num claro desrespeito pela população residente”.
Segundo a deputada, “não basta investir milhões na promoção exaustiva do concelho e na divulgação das suas maravilhas. É necessário que essa campanha turística seja acompanhada de códigos de conduta, regras, manuais de boas práticas e uma política de marketing territorial, concertada entre os vários intervenientes, com a consciência das especificidades do nosso território, para a promoção e desenvolvimento sustentável do concelho”.
Sem exigir “aulas de cidadania aos visitantes”, Sandra Barreira pretende, no entanto, que “o Município zele pelo território e pela população, […] auscultando os alertas da CDU para excessos e fazendo o ‘trabalho de campo’ com os mais variados agentes económicos e turísticos. Se tal tivesse acontecido, teríamos evitado muitos incidentes e ocorrências, proporcionando uma experiência mais positiva quer para quem visita, quer para quem recebe”.
Para travar a continuação do turismo de natureza em modo “selvagem”, a advogada quer que se faça valer “a noção da distância que existe entre a consciência ambiental e a mobilização de comportamentos”, com vista à preservação do ambiente, “cabendo ao Município” o papel de acautelar procedimentos.
O edil João Manuel Esteves não se esquivou ao debate acerca do turismo descontrolado, mas preferiu olhar para o problema de outra maneira, devolvendo responsabilidades. “Pois, eu também queria [um turismo sem excessos], é uma boa proposta, gostava muito que a CDU propusesse na Assembleia da República o reforço do contingente da GNR, porque o atual não chega para todas as situações, muito embora, dentro das limitações existentes, a GNR esteja a fazer um bom trabalho num território que é imenso”.