Uma delegação do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e um grupo de, aproximadamente, trinta compartes de Soajo, reunidos no passado dia 15 de maio, decidiram agendar uma ação de verificação conjunta no Mezio para o próximo dia 25 de maio (8.00) com o objetivo de remarcar (retificar) a área de vedação afeta ao projeto-piloto de restauro da mata do Mezio.
A vedação de grandes áreas para plantação de folhosas (carvalhos, castanheiros, bétulas…) está a diminuir o pasto para o gado e, por causa disso, os criadores pecuários voltaram a manifestar a sua preocupação na reunião que foi solicitada por António Cerqueira.
De modo resumido, os compartes que tomaram a palavra, nesta reunião, sublinharam que a plantação em fase de execução, no âmbito do projeto-piloto em curso, vai (está a) interferir com áreas de pasto, caminhos e linhas de água, colocando em causa a sobrevivência do gado. Também foram apresentadas queixas devido à curta distância entre a vedação e a estrada. A falta de zonas para circulação do gado foi, igualmente, notada pelos presentes.
Ana Paula Neves, em representação do diretor do ICNF, entidade responsável pela gestão dos perímetros florestais, admitiu “não ter a perceção de que as coisas não estivessem devidamente esclarecidas”, depois de o projeto ter sido “apresentado ao Conselho Diretivo dos Baldios e à Assembleia de Compartes dos Baldios, onde todos ficaram a saber em que é que ele consistia em termos de recuperação de manchas ardidas, aproveitamento da regeneração natural, áreas de plantação e instalação de infraestruturas (proteções/cercas)”.
Ciente da importância de acautelar a atividade agropecuária, a responsável deixou uma garantia aos compartes e ao Conselho Diretivo dos Baldios de Soajo. “Muda-se a plantação para outro lado, a população é que tem de dizer, o território é vosso e a Assembleia de Compartes completamente soberana. É uma questão de agendarmos um encontro no terreno para retificar as áreas de plantação de folhosas”, apontou Ana Paula Neves.
Em sintonia, e para obviar aos problemas suscitados, o técnico Marcos Liberal acrescentou que o passo seguinte é “identificar no terreno os limites deste território que temos de retirar [da plantação] para não colidir com o pastoreio do gado”. Ou seja, ao que tudo indica, por consenso, serão (re)desenhadas as áreas de plantação para fazer vingar a recuperação do ecossistema, sem comprometer a atividade agropecuária.
A comitiva soajeira que acompanhar a delegação do ICNF na próxima sexta-feira terá como missão específica ajudar a compatibilizar a reflorestação de folhosas com o pastoreio de acordo com o uso e fruição do baldio. “Quem for connosco, tem de nos dizer: ‘pode plantar [e vedar] aqui, mas não ali, porque é local de passagem para o gado’; e tem de nos indicar os bebedouros. Digam-nos isso, […] nem que a gente tenha de vir cá três dias ou uma semana, e, no fim, sinalizaremos a área com fitas”, prometeu Marcos Liberal.
Com este levantamento, estão criadas as condições para destinar o melhor terreno ao pastoreio e não tapar caminhos e linhas de água, mas há também deveres inalienáveis, tal como Ana Paula Neves difundiu pelos compartes.
“Se a população quer a plantação [de folhosas], também tem de contribuir no futuro para a preservação/manutenção das cercas. Como? Utilizando os portões, realizando os percursos de gado e respeitando as vedações”, defendeu, dizendo, sem o dizer explicitamente, que os criadores têm de ser, eles mesmos, os fiscais da floresta no objetivo comum de salvaguardar o ecossistema.
A revitalização da mata do Mezio depende, consequentemente, da proteção que lhe for confiada e da colaboração de todos, sendo certo que a plantação de folhosas só será resguardada com vedações.
Impedimentos
É inviável ter árvores pequenas e gado no mesmo espaço e ao mesmo tempo. No limite, e dado que as vedações são imprescindíveis para as folhosas, a solução, sugeriu Manuel Araújo (“Leiras”), podia passar, então, pela “execução faseada das plantações”. “Se estas fossem feitas gradualmente, não iria faltar pasto para os animais. Ao ser feito tudo de uma só vez, estamos a prejudicar os criadores de gado”, constatou o criador de Soajo.
Mas o engenheiro Marques esclareceu que o contrato de execução obedece a requisitos impreteríveis. “O financiamento tem um horizonte temporal de três anos. […] Não dá para plantar 10 hectares por ano. Da nossa parte, em relação ao tempo do projeto, houve a intenção de o prolongar o mais possível”, justificou.
Por razões legais, também não é possível “conjugar arbitrariamente as áreas de plantação nem sobrepor investimentos/programas de financiamento diferentes”, sendo que um provém do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR) e o outro resulta da Medida de Estabilização de Emergência.