Soajo em declínio há décadas
A perda gradual de serviços, o escasso mercado de trabalho e a falta de oportunidades estão na base do êxodo populacional de Soajo, constatação que é corroborada tanto por residentes como por emigrantes. No plano da administração política, Manuel Barreira da Costa, o autarca local há mais tempo em funções executivas na “folha de serviço”, com apenas quatro anos de interregno neste século entre outubro de 2013 e outubro de 2017, e que está perto de abandonar as lides políticas (não é candidato às autárquicas de 26 de setembro), é o primeiro a reconhecer o declínio do território.
No âmbito da sessão pública “Arcos Convers@: (des)igualdades em foco”, realizada neste mandato prestes a terminar, denominada “Como está Soajo em relação ao acesso à saúde?”, o presidente da Junta de Soajo, quando desafiado a responder a uma das problemáticas mais impactantes para a envelhecida população da freguesia, não escondeu a degradação do serviço médico que está a ser prestado à população.
“Já estivemos muito melhor, já tivemos três doutores, numa altura em que havia mais gente também. Mas está a tornar-se cada vez mais difícil ter em Soajo um médico, agora só o temos durante um dia e meio por semana… E, no horizonte, não vejo grande possibilidade de ter outro médico, o que é muito mau para nós”, lamentou Manuel Barreira da Costa, que admitiu, em tom crítico, a progressiva retirada dos vários serviços de proximidade.
“Pouco a pouco, vamos ficando com menos serviços. Já fecharam várias instituições – banco, farmácia e em relação à escola não sei o que vai acontecer, esperemos que continue a funcionar e que a Extensão de Saúde também não feche”, alertou o autarca social-democrata nessa sessão de auscultação do povo de Soajo.
Além da dificuldade em aceder a vários serviços por motivo da deslocalização de recursos, os efeitos da política de abandono de terras como Soajo também estão bem à vista noutras áreas, a começar pelo grave problema do despovoamento.
“[Tendo em conta os poucos nascimentos que há], e considerando que em Soajo morrem cerca de trinta pessoas por ano, os números dos Censos, menos 314 pessoas entre 2011 e 2021, refletem a realidade”, declarou na Assembleia de Freguesia realizada no mês findo o presidente da Junta, que, todavia, não incluiu nas contas finais o peso do êxodo da população em idade ativa.
Para a comunidade soajeira que acompanha o pulsar da terra é uma evidência que não se consegue promover a fixação de pessoas sem garantir acesso generalizado a serviços de interesse geral, como centro de saúde, agência bancária, correios, Internet de banda larga, farmácia e transportes.
Foto de arquivo