Velho pereiro foi cortado
Por estes dias em Soajo (quase) só se fala do pereiro que foi cortado no sopé da frondosa Eira do Penedo, paredes-meias com a escola primária de Soajo. Quem mandou cortar diz que o risco de queda, alegadamente devido ao estado muito precário da planta, não deixava outra alternativa, mas a coroa depositada à volta do tronco decepado e o epitáfio em “homenagem” ao pereiro extirpado testemunham o sentimento de revolta anónima que tem vindo a crescer na vila de dia para dia.
Contactado pelo blogue Soajo em Notícia, o presidente da Junta de Freguesia de Soajo justifica a decisão atendendo ao estado sanitário da planta. “O pereiro estava seco há cerca de um ano e constituía um perigo para as crianças da escola”, explica Manuel Barreira da Costa, acrescentando que se limitou a cumprir uma instrução da vereação camarária, mesmo “sem ouvir nenhum parecer técnico” e “sem discutir o assunto com os restantes elementos do executivo da Junta”.
“Foi o vereador Olegário Gonçalves que deu instruções para se cortar o pereiro antes das feirinhas [Feira das Artes e Ofícios Tradicionais]”, sustenta o presidente da Junta, que diz não ter ficado indiferente à operação.
“Também tive pena do abate do pereiro, que fazia parte do nosso património, mas estava morto e não era possível ressuscitá-lo”, atira o autarca, que contraria a existência centenária da árvore.
Por seu turno, o vereador Olegário Gonçalves dá a seguinte versão dos factos: “Não dei ordens, o que aconteceu foi que alguém entendido na matéria se deslocou ao local e, com base nesse parecer, é que se procedeu ao abate do pereiro”.
Entretanto, não se sabe quem teve a ideia nem o(s) autor(es) material(is) da homenagem feita ao pereiro, mas não passa despercebida a ninguém a sentida dedicatória (e o impiedoso epíteto dado ao mandante) que, por baixo do tronco, se pode ver e ler numa quadra prefaciada pelo acrónimo RIP (iniciais da expressão latina Requiescat in pace, que significa “Descanse em paz”):
“Querido pereiro,
Maldito quem te matou.
Os sentimentos de uma
População que te amou”.
À parte o pereiro, segundo refere Manuel Barreira da Costa, pelas mesmas razões (alegado mau estado sanitário/vegetativo), também foram abatidas várias plantas no Campo da Feira de Soajo.
Fotos: Abino Enes e Soajo em Notícia